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Próximos anos vão transformar os bancos

Setor terá que atrair mais capital para atender regra global, num cenário de juros mais baixos e margens menores

Itaú prepara bases para expandir operações na América Latina; Setubal diz que competição no Brasil é superintensa

Regis Filho - 5.dez.2012/Valor
O presidente do Itaú em sala de reuniões da presidência, decorada com camiseta do Santos autografadapelos jogadores
O presidente do Itaú em sala de reuniões da presidência, decorada com camiseta do Santos autografadapelos jogadores
DE SÃO PAULO

Para Roberto Setubal os próximos anos serão de mudanças profundas no setor bancário. De um lado, as instituições terão que se adaptar aos juros -ou seja, receitas- menores. De outro, melhorar a gestão de risco para combater a inadimplência.

O ponto mais crítico, porém, será a necessidade de aumentar o capital para atender a regras internacionais, conhecidas como Basileia 3, que procuram dar mais segurança ao sistema financeiro.

Pelas regras brasileiras, para cada R$ 100 emprestados, o banco deve ter R$ 11. O acordo de Basileia 3 não só aumenta esse percentual -que pode chegar a 13%- como restringe o que pode ser considerado como capital.

Será "um desafio" na opinião do banqueiro, à frente do Itaú desde 1994. No curto prazo, sua "lição de casa" é "fortalecer a base para escorar o grande sonho": consolidar-se em dez anos como gigante latino-americano.

Responsável por levar o banco à liderança no Brasil e à lista dos dez maiores do mundo, o presidente do grupo acha mais difícil ser o primeiro que ser o vice. "Mas é mais divertido ser o líder."

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Folha - Quais são as principais fronteiras de investimento?

Roberto Setubal - Temos participado intensamente no financiamento de fundos de energia, Jirau, termoelétricas, energia eólica, óleo e gás. E não é só financiar a Petrobras, mas os estaleiros, toda a cadeia de empresas.

A inflação preocupa?

Não preocupa no sentido de que vá sair do controle, mas não deveríamos estar satisfeitos com 5,5%. Uma inflação menor tornaria a economia mais produtiva e competitiva. Quanto mais certezas em relação ao cenário, mais capacidade se tem de planejar e tomar decisão, porque reduz-se o risco.

De que depende a saúde do sistema financeiro?

A boa regulação é essencial, mas vem também da qualidade da administração, da capacidade de conseguir levantar capital para fazer a intermediação entre quem poupa e quem precisa de empréstimos. Se você olhar o tamanho dos bancos, eles são muito grandes porque a atividade exige muito capital. Com Basileia 3, vai ser preciso aumentar muito o capital nos próximos anos.

Então podemos esperar mais concentração do setor nos próximos anos?

Você pode esperar uma mudança... veja, é um desafio para o sistema. Instituições financeiras vão ter que mudar sua atividade. No Brasil, isso se soma a juros mais baixos, há um desafio muito grande de produtividade, de administração de risco, que mudará bastante a operação.

Houve um embate entre bancos e governo neste ano, por causa dos juros. O que restou disso? Ficaram mágoas?

É evidente que no Brasil, a taxa de juros, mesmo com toda a queda, ainda é muito alta comparada com a lá de fora. Há razões para isso.

O sistema financeiro está totalmente aberto a dialogar, encontrar soluções. Sou o primeiro da fila. Mas posso afirmar com muita segurança que o retorno dos bancos no país não é alto comparado com o resto do mundo.

Os bancos estão abertos a discutir isso dentro da racionalidade. O spread bancário tem que cobrir três coisas: um é o custo operacional, outro é a perda de crédito -em que ntra o cadastro positivo, como recuperar uma garantia...

No mundo há uma garantia amplamente usada, a imobiliária. Se você dá a sua casa como garantia, leva muito a sério sua necessidade de pagar o empréstimo. O spread vai lá para baixo. É algo que precisa mudar no Brasil.

Aí tem a terceira parte do spread, que é a remuneração do capital. Para cada 100 que eu empresto, tenho que ter 11 de capital. E como eu levanto esses 11 se não remunerar? Se não conseguir levantar, como vou dar mais crédito?

Sob a sua gestão, o Itaú passou a um dos dez maiores do mundo. Qual é a estratégia agora?

Se o sonho é grande, a base tem que ser sólida, se não não vai longe. Base, hoje, é um desafio de curto prazo, um, dois anos, que é adaptar o banco ao cenário de juros mais baixos, margens menores, capital maior em função de Basileia 3.

A gente olha para o Itaú daqui a dez anos como uma empresa mais internacional. Principalmente na América Latina, onde queremos expandir no próprio varejo, não só em investimentos ou no mercado corporate.

Por aquisições?

Sim, mas, para conseguir comprar, alguém precisa querer vender. De forma geral, na América Latina, os bancos estão bem, os mercados estão dinâmicos, então tem que ter paciência para aguardar a oportunidade certa.

Que país interessa mais?

Já estamos no Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai. Acabamos de abrir Colômbia numa operação corporate. Não conseguimos comprar nada a curto prazo no varejo.

É mais difícil ser líder ou vice?

O líder. Quando você está em segundo, seu objetivo é passar o primeiro. Você vê o que o outro faz, copia se tiver que copiar. O que acha que está errado, já faz diferente. O primeiro tem que estar inventando coisas novas, desbravando outros mercados. Mas é mais divertido ser líder.

Que mercados vão desbravar?

Os bancos no Brasil já são muito grandes, universais. Já estamos praticamente em todos os mercados. Claro que há produtos em que podemos melhorar a presença, compramos a Redecard neste ano, entramos forte em empréstimos consignados. Há oportunidades, mas não é como há 15 anos atrás, quando a consolidação começou.

Tem que ser bom de gerenciar processos também, não?

Nós somos bancos muito mais completos e complexos que os de outros países. Aqui o gerente pode oferecer uma enormidade de serviços, tudo consolidado numa única tela, mesmo tendo várias empresas por trás.

E o Brasil de fato tem um sistema financeiro muito evoluído, em parte pela competição, também. No Brasil, embora nem sempre visto desta forma, a competição é superintensa, é enorme. Há dois gigantes privados nacionais, dois gigantes estrangeiros e dois gigantes públicos.

Posso te dizer que a briga é intensa e a cada vitória há grandes comemorações, a cada derrota, juras de vingança (risos).

Qual foi a última grande vitória e a grande derrota?

Ah, não vou falar disso (risos), mas é isso que faz o sistema forte, essa permanente briga de ocupar posições. Isso faz o sistema muito forte.

Engenheiro trabalhando em banco é normal, mas seu mestrado foi também em engenharia. Você já disse que não pensava em dirigir o banco, mas qual era sua expectativa?

Fiz engenharia de produção, que é muito mais voltada para indústria, produtividade. Eu me imaginava mais na área industrial. Sou muito metódico, racional, tenho uma formação de engenheiro que está muito presente na minha atuação de executivo.

Mas vim para o banco e acabei me apaixonando. Olhando de fora parece muito árida, mas é uma atividade em que se tem muitas oportunidades, é preciso se adaptar, se mover numa velocidade incrível. Ao mesmo, você está vendo toda a economia, o que torna o dia a dia fascinante.

Hoje é o dia do fim do mundo... [a entrevista foi feita em 21/12/2012, último dia do calendário maia.]

(risos) Para quem acredita nessas coisas.

Se o mundo acabasse, qual seria sua maior realização?

(pausa) Acho que morreria em paz. Missão cumprida.

Estudos indicam que a profecia foi mal interpretada, indicava na verdade o começo do novo ciclo. Se fosse obrigado a começar um novo ciclo, não pudesse mais ser o presidente do Itaú, o que faria?

Eu gosto muito do que eu faço... Preciso pensar... Tendo feito tudo o que eu fiz em banco, faria coisas diferentes, bem diferentes, até.

Teria muita vontade de construir uma grande faculdade, de ponta, de grande nível, que pudesse educar grandes profissionais. Provavelmente começaria por uma faculdade de engenharia.

Estou vendo ali a camiseta do Santos com a faixa de campeão da Libertadores-2011. Foi muito doído ver o Corinthians conseguir o que o Santos não conseguiu?

Não tenho problema em torcer para times brasileiros em partidas internacionais. Particularmente no caso do Corinthians, na faculdade tive amigos muito corintianos, fui muito a jogos. A gente acaba adquirindo uma simpatia natural. Não tenho aquele ódio de outras torcidas.

E ainda arrisca um futebol?

Não, eu já passei dessa idade. A essa altura isso é um perigo (risos). (AESP)

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