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O ataque das máquinas

Indústria nacional começa a se armar para disputar mercado com fornecedoras estrangeiras de cafés especiais, que custam até R$ 240 o quilo

MAURO ZAFALON COLUNISTA DA FOLHA

Conhecido como país do café, o Brasil está travando uma batalha pelo consumidor mais sofisticado -e pelos lucros mais expressivos na venda desse produto.

Ainda são os brasileiros os principais exportadores do grão commodity (sem valor agregado), mas os volumes do café torrado e moído exportados diminuem ano a ano.

Na outra ponta, o país importa volumes cada vez maiores de pó ou cápsulas especiais para máquinas de café feito sob pressão, a preços bem maiores -porque o café passou por seleção, "blending" (mistura de sabores) e acaba tendo um aumento de qualidade.

Nessa batalha, quem ri por último é a Suíça, principal fornecedora do produto especial. O preço desse café vindo de outros países chega a R$ 240 por quilo -diluídos em pequenas doses de pouco menos de dez gramas.

Nos supermercados, o quilo do produto comum nacional gira em torno dos R$ 10.

As indústrias que operam no Brasil acreditam que o país ainda não tenha perdido completamente o bonde desse novo hábito de consumo, mas a tendência está se acelerando. Em 2012, a importação de cafés especiais somou 1.228 toneladas, 52% mais do que no ano anterior.

No mesmo período, as exportações brasileiras de café torrado e moído recuaram para 2.218 toneladas, com queda de 38% no ano.

Em apenas sete anos, os gastos do Brasil com compras externas da bebida passaram de quase nada para US$ 35,8 milhões. Já as exportações, que chegaram a US$ 40 milhões por ano, recuaram para US$ 18,3 milhões em 2012.

No foco dessa história estão as maquininhas, hoje com presença obrigatória em toda lista de casamento. Já somam 850 mil unidades nas residências no país, quase o dobro das 450 mil em 2011.

A inovação dessas máquinas é permitir que se faça um café rápido, prático e com dose individual, mantendo a qualidade. Apesar de o preço ser mais de 20 vezes maior que o do café comum, cresce o número de consumidores brasileiros que preferem pagar pela comodidade.

Esse nicho de café começa a apresentar, no entanto, algumas mudanças. Devido ao valor maior do produto, tem crescido a oferta de cápsulas genéricas, adaptáveis às máquinas das indústrias pioneiras no setor, o que não ocorria antes.

As fabricantes brasileiras dizem que a tendência é irreversível e que têm de participar desse mercado. Isso trará uma concorrência acirrada nos próximos anos. Um sinal dela é o recuo dos preços das cápsulas no mercado interno. O quilo desse café já chegou a custar R$ 320.

Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), diz que a inovação exige altos investimentos e as indústrias nacionais não viveram um bom momento financeiro nos últimos anos.

Impostos e preços do café praticamente sem reajustes nos supermercados não permitiram à indústria nacional entrar nesse novo tempo da preparação do produto.

Herszkowicz acredita, no entanto, que o caminho ainda está aberto para as indústrias nacionais, que agora começam a ir nessa direção.

O Brasil consome 20 milhões de sacas de café, o que corresponde a 173 bilhões de xícaras por ano. Por ora, as máquinas de café geram próximo de 765 milhões de doses. Ainda há muito mercado para ser conquistado, segundo o executivo.

A batalha das empresas brasileiras para entrar nesse mercado, no entanto, será longa. Embora o café brasileiro seja a base do produto comercializado pelas multinacionais do setor, o "blend" é formado por grãos de vários países, como Quênia e Índia.

A indústria nacional, porém, não pode adotar a mesma estratégia de fazer "blends" aqui, para agregar valor a seu produto. O Brasil impede a importação de café verde de outros países. A não ser que haja mudança na lei, será preciso usar apenas café nacional, perdendo competitividade com as estrangeiras.


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