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Arno, o manobrista

Secretário do Tesouro é criticado pelas manobras para fechar a conta do superavit, mas tem trânsito direto no Planalto e é visto como o mais provável sucessor de Mantega

NATUZA NERY SHEILA D’AMORIM DE BRASÍLIA

"Arno, volta", apelou a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Mas o secretário do Tesouro desobedeceu a ordem da chefe. Havia batido boca com o titular da Aviação Civil, pegou o terno e saiu vermelho de raiva.

Naquele dia tenso de dezembro, Arno Augustin, 52, insistia em discutir detalhes já vastamente debatidos sobre a concessão de terminais e frequentemente interrompia o ministro da pasta, Wagner Bittencourt. Este bateu as duas palmas sobre a mesa: "Chega! Arno, você é muito mal-educado".

"Não sou, não", reagiu o secretário. "É, sim, pode perguntar para todo mundo", rebateu o normalmente calmo Bittencourt.

A sala lotada de técnicos reagiu surpresa, e o episódio rapidamente se espalhou como fábula pela Esplanada dos Ministérios.

Protegido da presidente Dilma Rousseff, com quem trabalhou no Rio Grande do Sul, o secretário do Tesouro é uma pessoa de poucos amigos dentro do governo.

É descrito como centralizador e inflexível nas discussões. Ganhou ainda mais antipatia depois das sucessivas manobras contábeis para fechar as contas de 2012.

A contabilidade criativa do secretário fez aparecer mais de R$ 19 bilhões para engordar o saldo fiscal do ano. Tudo para a presidente Dilma não ter que assumir o não cumprimento da meta do superavit primário no segundo ano da sua gestão.

SOCO NA CREDIBILIDADE

A decisão foi um soco na credibilidade da equipe econômica. Os números do Tesouro passaram a ser vistos com desconfiança, e a gestão de Arno, ainda mais questionada. Afinal, define um interlocutor do governo, "responsabilidade fiscal não é só número, mas também transparência e prestação de conta".

Ele não é criticado por engordar as receitas, mas por usar operações trianguladas que permitem maquiar gastos e obter recurso sobretudo de estatais e bancos oficiais.

O problema é que a manobra não reflete o gasto público efetivo. Portanto, não contribui como deveria para o controle da inflação.

Filiado ainda jovem ao PT gaúcho, Arno integra uma das correntes mais à esquerda do partido, a trotskista DS (Democracia Socialista); ou, em trocadilho bem-humorado repetido na equipe econômica: "Defesa do Superavit".

Apesar de ser de uma família abastada, colegas de trabalho brincam que a austeridade fiscal vem de casa. Não costuma renovar o guarda-roupa e sempre chega ao Ministério da Fazenda dirigindo um carro velho.

O estilo desalinhado chamou a atenção da ministra Miriam Belchior (Planejamento). "Você precisa de terno e gravata novos."

Dias depois, apareceu desfilando as novas aquisições. Belchior, Gleisi e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) formam o núcleo feminino que simpatiza com Arno.

RESPONSABILIDADES

Até mesmo os que não gostam dele consideram injusto que seja responsabilizado sozinho por todas as estripulias do Executivo na área fiscal.

"As críticas não fazem sentido. A solvência fiscal do país nunca esteve tão boa", defende o aliado Márcio Hol-land, secretário de Política Econômica.

"Ele tem suas convicções, é firme nos posicionamentos, mas é parceiro", completa Zayda Manatta, chefe interina da Receita Federal.

Eis o que muitos dizem nos bastidores: "Não se pode ser artilheiro e zagueiro na mesma partida". Arno não pode ser o dono do cofre e, ao mesmo tempo, propor a ampliação do gasto público. Partiu dele, por exemplo, a ideia de bancar com dinheiro público voos de empresas áreas no pacote de aviação regional.

Quem o conhece explica: isso só ocorreu em razão do também criticado perfil intervencionista do secretário. Ele foi um dos maiores opositores à ideia de leiloar aeroportos para a iniciativa privada.

O secretário ganhou fama por só mudar de opinião se for para concordar com Dilma. Não à toa, possui trânsito direto com o Planalto.

Hoje, é difícil encontrar alguém graduado no governo que não concorde com o seguinte diagnóstico: se Guido Mantega (Fazenda) cair, Arno será o colocado lá.


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