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Perfil Claudio Antonio da Silva

Do ovo ao filé mignom

CLAUDIA ROLLI DE SÃO PAULO

Da máquina em que costurava jeans para a confecção onde trabalhou aos 17 anos, Claudio Antonio da Silva já trazia uma certeza: queria se aperfeiçoar em serviços manuais e ficar longe do dia a dia das grandes fábricas do Brás (centro de São Paulo).

Deixou o emprego de costureiro nos anos 90 e passou a ajudar a mãe a servir banquetes em festas das famílias Lafer, Piva e Albuquerque, para quem trabalhava.

Quando a mãe se aposentou, depois de 45 anos servindo essas e outras famílias tradicionais de São Paulo, Claudio herdou dela, como costuma dizer, "a mordomia".

"Em casa costumamos dizer que nossa família tem um 'quê', uma espécie de chamado, para a mordomia. De ser meio mordomos, mesmo", diz o doméstico que, aos 46 anos, é hoje um dos mais disputados da cidade.

"Recebo ligações de amigos e familiares de meus patrões pedindo um encaixe na agenda. Mas, olha, para dizer bem a verdade, espaço mesmo acho que só em 2014. Neste ano, não dá mais."

Depois de se dividir entre sete mansões de herdeiros das três famílias iniciais, Claudio se concentra agora nas casas das patroas dona Rina, dona Heloísa, dona Vera e dona Suzana, todas moradoras da região dos Jardins.

Cobrando R$ 120 por dia (mais condução), ele chega a um salário de R$ 3.200 com os bicos adicionais -como cuidar do cão yorkshire que chega em sua casa conduzido pelo chofer da família ou fazer jantares de emergência.

Ajudar o patrão a vender um imóvel a outro já lhe rendeu comissão de R$ 5.000.

Sua renda está bem acima da média do que faturam 6 milhões de trabalhadores domésticos do país. Em seis regiões metropolitanas pesquisadas, o rendimento médio varia de R$ 750 a R$ 800, segundo dados do IBGE.

Claudio estudou teologia, mas foi em serviços domésticos mesmo que decidiu se profissionalizar -"por opção, não por necessidade".

Com 300 outras alunas, ele se formou em novembro passado, com direito a diploma e colação de grau, na primeira turma de empregadas domésticas da Casa Bombril, espaço criado para qualificar os profissionais da categoria.

"Quem tem o privilégio de trabalhar em um ambiente com Renoirs [dito assim mesmo com ênfase no "s"] pendurados nas paredes e ouvindo música clássica? Certamente tenho um trabalho privilegiado", afirma o doméstico, que se diz um "autônomo do lar".

Mas a vida nem sempre foi assim. "Já comi muito ovo. Agora, só filé mignon." A mudança não se refere só ao que vai à mesa, mas também à "carteira de clientes".

"Com amigos da área de administração, aprendi a valorizar meu trabalho e a formar essa clientela. Não trabalho sem ser de uniforme branco, não atendo celular durante o horário de serviço e creio que o respeito tem de vir de ambos: de quem trabalha e de quem contrata."

Mesmo com famílias de posses, já passou por experiências em que diz ter ensinado o patrão a pagar "o justo". Há dois anos, após 13 horas de faxina para colocar em ordem a casa recém-reformada de um casal, recebeu R$ 60. Deixou o dinheiro em uma mesa e avisou que voltaria para pegar o correto.

"Encontrei R$ 100", conta. "Não está certo, eu disse. Se o senhor tivesse me pagado R$ 80, seria o justo. R$ 100 foi por pura pressão. Precisa aprender a melhorar isso. Pagar o que vale o trabalho."


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