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Análise Copom

Fatores que balizam decisão apontam para direções opostas

ROBERTO LUIS TROSTER ESPECIAL PARA A FOLHA

A definição atual da trajetória dos juros é das mais complexas que o Copom teve que resolver até agora.

A deliberação está fundamentada em três fatores: o inflacionário, o crescimento e o político.

A questão é que eles não apontam numa só direção, tornando impossível uma decisão inequívoca.

O objetivo inflacionário é fazer o IPCA terminar o ano em 4,5% ou convergir para esse número. No ano passado, terminou em 5,84% e tem acelerado nos últimos meses, o que prescreveria um aumento de juros.

Apesar de alguns indicadores apontarem que parte da pressão inflacionária atual é causada por fatores conjunturais que não são afetados pela ação do Banco Central, a recomendação, apesar de não tão categórica, é na direção de elevar a taxa Selic.

A segunda variável é o impacto dos juros no crescimento da economia. Há sinais de retomada neste ano.

Quando a autoridade monetária aumenta a taxa, corre o risco de esfriar esse movimento. Se espera para subir, e a inflação continua a acelerar, o impacto final pode ser pior. Não há como saber com precisão. Isso dificulta mais a decisão.

O terceiro fator, e o mais determinante, é o político: o risco de o governo ficar refém das decisões do Copom, que deixam de ser assuntos técnicos a serem definidos pelo Banco Central e tornam-se uma questão ideológica, defendida até pela presidente da República.

Baixar os juros é um objetivo meritório que deve ser perseguido. Considerando que há uma eleição no ano que vem, o ideal seria não ter que subir a taxa até lá.

Entretanto, se a atual tendência permanecer e, na véspera do pleito, os preços estiverem disparando, teria sido melhor elevar os juros rapidamente mais cedo.

Não é uma escolha fácil, entre uma medida antipática agora e o risco de uma mais dura no futuro.

A popularidade de baixar juros altos é uma unanimidade, mas houve pouco progresso na tentativa de eliminar suas causas, como melhorias na dinâmica fiscal e reformas institucionais. Muita energia foi gasta apenas no sintoma: baixar a taxa Selic.

A monotonia e a miopia sempre dominaram o debate sobre a política monetária no Brasil, onde só se olha para a Selic. Nelson Rodrigues, que escreveu "Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola", com certeza diria o mesmo a respeito dos juros básicos.


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