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Cifras & Letras

CRÍTICA união monetária europeia

Olhar sobre a criação do euro joga luz nos problemas atuais

Livro mostra que autoridades sabiam que bloco não poderia evitar crises

ÁLVARO FAGUNDES EDITOR-ADJUNTO DE “MERCADO”

O quase colapso do bloco dos países que usam o euro como moeda, especialmente na primeira metade do ano passado, mostrou as falhas no sistema da região para administrar uma crise econômica e financeira.

As várias reuniões de chefes de Estado foram insuficientes para acalmar o mercado de um possível calote da Grécia e de outros governos.

Apenas a promessa do presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, de que fará "tudo o que for necessário" conseguiu sedar a crise -ainda é cedo demais para dizer que ela acabou.

Alguns dos ensinamentos desse período é que não há instrumentos supranacionais necessários para regular um sistema financeiro que cada vez mais atravessa fronteiras e que são necessárias medidas mais duras para controlar as dívidas públicas.

Um dos méritos de "Making the European Monetary Union" ("Construindo a União Monetária Europeia", em tradução literal) é jogar luz nos bastidores da criação do bloco que hoje tem 17 países usando a moeda única.

O livro do britânico Harold James, historiador da Universidade de Princeton (Estados Unidos), mostra, por exemplo, que as autoridades sabiam desde o início que o bloco não teria as regulações financeiras ou fiscais para evitar problemas econômicos.

A esperança era de que elas não fossem necessárias ou que seriam acrescentadas ao longo do tempo.

A realidade se mostrou mais dura. A supervisão financeira acabou ficando mesmo para os Estados e se mostrou inepta para um setor que, incentivado pela criação da moeda única, se alastrou pelo bloco.

A combinação da crise americana e da recessão europeia deixou várias instituições financeiras à beira da ruína, tendo que ser resgatadas pelo governos, que, por sua vez, aumentaram de forma abrupta o endividamento.

Pesou ainda o fato de os países não estarem com suas contas sob controle. Com controles fracos no bloco, eles aproveitaram durante anos os juros baixos (ou seja, dinheiro barato) que a presença da forte Alemanha no bloco lhes proporcionava.

"O problema principal da união monetária europeia reside no fato de estar incompleta ou nos seus desequilíbrios. Houve uma melhor preparação para o lado monetário que para seus similares fiscais que deveriam sustentar a estabilidade", escreve o historiador britânico.

O livro de James analisa o período de 1957 (a partir do tratado de Roma, que cria os primeiros alicerces do bloco) a 1993, com o tratado de Maastricht, que levou à criação do euro.

O fato de não tratar dos tempos atuais -ainda que o autor não se omita de fazer ligações entre as decisões das décadas passadas e os seus efeitos atuais- acaba contando como vantagem. A crise ainda está latente e seus rumos são desconhecidos.

Outra vantagem é que James teve acesso a documentos exclusivos do BCE e do BIS (Banco de Compensações Internacionais, espécie de BC dos bancos centrais). Como o livro foi encomendado pelas duas instituições, pode ler documentos que estão sob sigilo pelo período de 30 anos.

No entanto, ninguém espere ler histórias saborosas sobre a criação do euro ou declarações polêmicas de alguns dos personagens que participaram da sua criação, como a britânica Margaret Thatcher ou o ex-chanceler alemão Helmut Kohl.

O livro de James é bastante técnico e exige conhecimentos de economia, ainda que não seja impenetrável. A revelação de dados exclusivos e a qualidade de sua análise recomendam sua leitura para entender o que se passa hoje na economia europeia.

MAKING THE EUROPEAN MONETARY UNION
AUTOR Harold James
EDITORA Belknap
QUANTO US$ 35 (567 págs.), sem previsão de lançamento nacional
AVALIAÇÃO bom


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