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Análise Coreia do Norte

Guerra entre Coreias só cessaria com os EUA

Mesmo que alvo de Pyongyang não seja americano, apenas uma intervenção de Washington terminaria o confronto

RICARDO BONALUME NETO DE SÃO PAULO

E se?

E se a Coreia do Norte levar a sério a ideia de lançar mísseis nucleares contra alvos na rival Coreia do Sul, no Japão ou em bases americanas no Pacífico?

Seria pura loucura, mas não seria a Terceira Guerra Mundial. Seria um conflito restrito ao oeste do oceano Pacífico. Poderia -ou não- também envolver a China.

Mesmo assim, seria algo devastador, com ou sem o uso de armas nucleares, já que as forças convencionais dos países envolvidos são enormes.

A Coreia do Norte tem poucas armas nucleares, pelo que se sabe -e não se sabe muita coisa, pois se trata do país mais fechado do planeta.

Teriam elas a potência das que os americanos usaram contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em 1945? E quais seriam os alvos?

Mas basta uma ser usada para criar uma crise mundial sem precedentes.

Seul, a capital sul-coreana, seria um alvo preferencial. "Decapitaria", no jargão militar, a liderança político-militar rival. Além de matar centenas de milhares de pessoas no processo.

Outra opção é atacar o odiado Japão, que colonizou a Coreia no começo do século 20. Japoneses consideravam coreanos como pessoas inferiores. E o Japão é um "baluarte capitalista" na região.

Faz sentido? Faria, do mesmo jeito como o finado ditador iraquiano Saddam Hussein atacou Israel em 1991. Era apenas uma maneira de criar uma dissensão na aliança que se voltou contra ele depois de ter invadido o Kuait, da qual Israel não fazia parte...

O jovem ditador do Norte, Kim Jong-un, com certeza não se importaria muito em usar bombas nucleares, como demonstra a história da família.

Avô e pai não se importavam com mortes generalizadas na população do país. Uma epidemia de fome na década de 1990 que matou muitos não levou a mudanças no regime marxista. A culpa, como agora, é sempre dos "imperialistas".

E mesmo uma retaliação inimiga que matasse centenas de milhares ou mesmo milhões de norte-coreanos seria encarada como parte do processo de reunificação da península pelo socialismo e da luta global contra o imperialismo.

Mas por trás da retórica de Kim Jong-un está uma máquina militar cheia de defeitos.

Mesmo a grande atração do momento, os mísseis supostamente capazes de lançar armas nucleares, mal foram testados. Não se sabe seus alcances, ou qual a potência da ogiva que podem transportar.

Em terra, a história é diferente. O Exército da Coreia do Norte é monstruosamente grande para um país que mal consegue alimentar sua população. Artilharia e tanques são numerosos, apesar de tecnologicamente inferiores aos rivais do Sul.

Uma clássica imagem de satélite explica a diferença. A imagem divulgada pela agência espacial americana Nasa mostra o mundo à noite, repleto de luzes acesas. A Coreia do Sul brilha. A do Norte fica na escuridão.

Economia muito superior, forças armadas tecnologicamente superiores fazem a diferença.

O Norte atacou em 1950, quando as duas metades da península coreana -comunista ao norte, capitalista ao sul- tinham poderio semelhante, e uma base econômica quase igual. O Norte tinha melhor armamento e quase tomou o Sul, se não fosse pela intervenção dos EUA (e, em seguida, pelas Nações Unidas).

A China entrou na guerra e empatou a partida, ajudando a sacralizar a divisão da península em dois países. Resta saber se de novo interviria.

Os sul-coreanos hoje têm capacidade de resistir a um ataque do Norte. Mas para terminar a guerra seria fundamental a intervenção americana. Para o azar de Kim Jong-un, a retirada americana do Iraque e do Afeganistão liberou forças para intervenções como esta.

E nem seria preciso usar tropas de terra. Para revidar um ataque norte-coreano, a Marinha e a Força Aérea dos EUA seriam suficientes. É justamente o ponto forte das Forças Armadas americanas. Talvez um ataque anfíbio ajudasse, como foi o caso do ataque em Inchon em 1950.

E se?

E se o ditador norte-coreano lançar uma bomba nuclear contra um alvo americano, como as bases de Guam e Pearl Harbor- esta última atacada pelos japoneses em 1941, forçando a entrada dos EUA na Segunda Guerra?

O simbolismo de um novo ataque a Pearl Harbor seria terrível. A opinião pública americana iria exigir retaliação. Como o resto do mundo reagiria a essa troca de bombas nucleares?

É melhor não saber.


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