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Polo industrial simboliza crise venezuelana

Ciudad Guayana tem fábricas que apresentam problemas após terem sido estatizadas pelo presidente Chávez

País terá eleição no próximo domingo, em que Maduro é favorito, mas enfrenta Capriles, candidato de oposição

FLÁVIA MARREIRO ENVIADA ESPECIAL A CIUDAD GUAYANA (VENEZUELA)

Angriett Acosta, 44, está desolada. Para onde olha em Ciudad Guayana, que abriga a maior parte do parque industrial da Venezuela, vê sinais da crise que afeta indústrias estatais e expropriadas pelo governo Hugo Chávez.

"Vou votar em Nicolás Maduro. A direita não é uma opção, mas não é um cheque em branco. Ele será cobrado. O que nos preocupa e ocupa é a corrupção", diz ela à Folha, sobre a eleição do domingo, a primeira em 14 anos sem Hugo Chávez na cédula.

O carro passa por um galpão que ainda exibe as marcas de um logotipo retirado. Lê-se: "Koma", e ela explica que é um supermercado de um grupo de capital espanhol que detinha também uma distribuidora de alimentos, a Friosa, tudo expropriado por Chávez em 2010. "Acabaram com a empresa."

Acosta é uma aguerrida militante chavista. Faz parte do grupo de trabalhadores "Plano Guayana Socialista", criado pelo governo para discutir a articulação entre as estatais da cidade planejada.

Fundada nos anos 60, Guayana, 700 km a leste de Caracas, é parte do sonho do Estado venezuelano de usar o dinheiro dos recursos naturais para se industrializar.

Fica em uma região rica em minério e energia necessários para alimentar a cadeia produtiva estatal do aço e alumínio, cuja estrela é a siderúrgica Sidor.

A Sidor chegou a ser privatizada em 1997 para voltar às mãos do Estado em 2008, numa das expropriações mais importantes feitas por Chávez.

Agora, a cidade e a Sidor são símbolos da crise da gestão "socialista" que atinge a grande maioria das empresas nacionalizadas na era Chávez, quando a dependência do petróleo se agravou.

Enquanto a oposição culpa o "estatismo selvagem" pela situação, a militante Acosta defende que o problema não é a gerência estatal, mas quem está a cargo dela.

Ela apresenta R., um funcionário da área de planejamento da Friosa estatizada que não quis se identificar.

"Fazíamos 20.000 refeições prontas por dia, agora fazemos 3.500", diz ele, crachá da empresa no bolso, duvidando que a companhia gere os recursos para pagar os funcionários, que passaram de cerca de 900 para 1.600.

DECADÊNCIA

O caso da Friosa se liga ao resto da crise de Guayana, reconhecida pelo presidente interino e candidato Maduro, favorito nas pesquisas. Quando passou pela cidade no sábado, ele prometeu revisar minuciosamente "tudo de errado" nas indústrias básicas.

A Friosa costumava fornecer a comida para a maior parte dessas empresas. Perdeu a capacidade de fazê-lo enquanto suas antigas clientes amargavam queda de produção.

Depois de cinco anos reestatizada, a produção de aço líquido na Sidor despencou de 3,5 milhões de toneladas em 2008 para 1,5 milhão de toneladas em 2012. O país passou a importar aço, bauxita (apesar das reservas) e alumínio, que costumava exportar.

A causa da decadência, concordam chavistas críticos e opositores, é: má gestão, corrupção e disputa entre grupos governistas dentro e fora das empresas.

O panorama foi agravado pela crise energética. No fim de 2009, o governo decidiu desativar parte das fábricas para economizar energia e evitar apagões generalizados.

"Foi uma decisão política. Não é como apertar um interruptor de luz. Reativar custa milhões", diz o jornalista Damián Prat, autor de "Ciudad Guayana: o milagre ao contrário" (Alfa, 2012).


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