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Japão lança cartada radical para crescer

Pacote do governo, conhecido como "Abenomics", conta com injeção de recursos para reverter longa deflação

Banco central do país terá papel fundamental no plano, que espera reverter fenômeno que se perpetua há 15 anos

RODRIGO RUSSO DE SÃO PAULO

Chamado de radical e até revolucionário, o recém-lançado pacote para reverter 15 anos de deflação e estimular o crescimento no Japão é visto por especialistas como uma última cartada para estimular a economia local --a terceira maior do mundo, atrás de EUA e China.

Mas a ação, apelidada, de "Abenomics" (referência ao novo premiê, Shinzo Abe), não está livre de críticas.

À Folha Rajiv Biswas, economista-chefe para Ásia e Pacífico da consultoria IHS Global Insight, observa que, com alto nível de endividamento público em relação ao PIB e taxas de juros praticamente a zero, as alternativas estratégicas do país eram muito limitadas --e muitas das opções anteriores não conseguiram reverter a deflação.

O fenômeno da deflação faz com que as pessoas e empresas poupem dinheiro em vez de gastá-lo, piorando ainda mais a situação econômica e as perspectivas de crescimento em um país que envelhece de forma rápida e com mão de obra em queda.

O "Abenomics" tem três vertentes: uma maciça injeção de dinheiro na economia, por meio de afrouxamento monetário ("quantitative easing") e compra de títulos de longo prazo do governo, a cargo do Banco do Japão (banco central local), medidas de estímulo fiscal, com aumento de gastos públicos, e reformas estruturais.

BANCO DO JAPÃO

O Banco do Japão terá papel fundamental na proposta de sair de taxas negativas e alcançar taxa de inflação de 2% nos próximos anos.

No início deste mês, o Legislativo local confirmou a indicação de Haruhiko Kuroda, 68, para o cargo de presidente da instituição --que logo anunciou a injeção de US$ 1,4 trilhão na economia em menos de dois anos.

Kuroda, mestre em economia pela prestigiosa Universidade de Oxford, onde teve aulas com o vencedor do Nobel John Hicks, está alinhado com a política mais agressiva desejada pelo premiê Abe. Antes de assumir o cargo, em março, Kuroda exercia a presidência do Banco Asiático de Desenvolvimento.

"Ele tem sólidas credenciais para a presidência do Banco do Japão, combinando fortes noções de administração com uma considerável experiência em coordenação econômica internacional na instituição regional, componentes tidos como chave para o papel no banco central nacional", avalia Biswas.

O antecessor de Kuroda no cargo, Masaaki Shirakawa, tinha mentalidade mais conservadora e defendia ação disciplinada dos bancos centrais. Durante sua campanha para premiê, Abe chegou a ameaçar mudança nas leis que garantem independência do Banco do Japão caso a instituição não implementasse políticas mais agressivas.

RESULTADOS

Até o momento, o "Abenomics" já resultou em depreciação do iene, fazendo com que as exportações do país ganhem competitividade, em aumento dos índices de confiança dos negócios e em alta nos mercados financeiros.

Além disso, a OCDE (Organização para a Cooperação e para o Desenvolvimento Econômico) elogiou as medidas e revisou de forma bastante favorável a projeção de crescimento do Japão no primeiro trimestre de 2013: de 1,5% do PIB, estimativa de novembro, para 3,2% em março.

O economista Biswas alerta que as novas políticas devem gerar recuperação em 2013, mas terão desafio maior a partir de abril de 2014, quando haverá aumento de imposto sobre vendas, de 5% para 8%, o que pode reduzir o consumo doméstico.

Outro problema que terá que ser desarmado pelo governo japonês é o nível de dívida pública. "Apesar de uma crise não ser iminente, já que 95% da dívida é doméstica, essa é uma possibilidade real no médio prazo, a não ser que o governo reduza firmemente o deficit fiscal nos próximos cinco anos, uma tarefa difícil", afirma Biswas.

Há o temor de que, com a implantação do "Abenomics", as taxas de juros também aumentem e tornem o pagamento dessa dívida insustentável a longo prazo, o que poria em risco o crescimento do país.


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