Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Entrevista Herminio Blanco

Não sou o candidato apenas dos países ricos

Ex-ministro mexicano minimiza relação com europa e eua na disputa com o brasileiro roberto azevêdo pela chefia da omc

RENATO MACHADO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE PORTO PRÍNCIPE (HAITI)

Os dois finalistas na disputa para ser o próximo diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio) possuem pontos vulneráveis, dos quais tentam se afastar. Roberto Azevêdo, embaixador do Brasil na OMC há cinco anos, busca se desvincular das ações protecionistas do governo brasileiro. O seu adversário, o ex-ministro de Comércio do México Herminio Blanco, quer mudar a imagem de preferido dos países ricos para o cargo.

Blanco diz que ter realizado negociações com os países desenvolvidos não significa necessariamente uma aproximação. "O fato de que fui responsável por negociar com Estados Unidos, Japão e com a União Europeia me permite saber como lidar com eles", afirmou à Folha, em Porto Príncipe, no Haiti, onde esteve na reunião da AEC (Associação dos Estados do Caribe) para pedir votos.

Um dos principais negociadores do Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte), que reúne Estados Unidos, México e Canadá, Blanco crê que o acordo tenha sido um dos motivos para o destravamento da Rodada Uruguai (que levou à criação da OMC, em 1995). Isso, segundo ele, o credenciaria a retomar a Rodada Doha.

O nome do escolhido para substituir o atual diretor-geral da OMC, o francês Pascal Lamy, deve ser divulgado em 8 de maio.

Folha - O que diferencia sua candidatura da de Roberto Azevêdo?

Herminio Blanco - Minha experiência foi liderar negociações históricas para o México, para o continente e também para o mundo. Conduzi a primeira negociação que os Estados Unidos tiveram com um país em desenvolvimento, uma negociação difícil que tinha muitas questões políticas e técnicas importantes. Então tenho experiência que me permitiu aprender como eles [os americanos] funcionam e como é possível conduzi-los para chegar a soluções. Da mesma forma ocorreu com a União Europeia e em negociações com países da América Central, além de Bolívia, Colômbia e Venezuela. Eu era o ministro do Comércio e Indústria responsável por implementar o Nafta nos primeiros seis anos. Estou no setor privado há mais de uma década, o que me permitiu ter uma perspectiva diferente do que é preciso em relação a decisões de negócios para crescer e gerar empregos.

Por ser visto como próximo da União Europeia e dos Estados Unidos, o sr. se considera o candidato dos países ricos e desenvolvidos?

Cem por cento não. O fato de que fui responsável por negociar com Estados Unidos, Japão e com a União Europeia me permite saber como lidar com eles. Sei como funciona toda a engrenagem da negociação e também como funciona nos países pequenos. Sou alguém com credibilidade com os países desenvolvidos e também com as nações em desenvolvimento. Uma das razões é que o México tem essas duas realidades. Há regiões do país que se beneficiaram com o comércio. Mas temos outras áreas muito pobres. Eu me considero um candidato que pode unir essas realidades e ser uma ponte confiável com os governos, setor privado e sociedade civil para reformar a OMC.

A disputa pela OMC terá pela primeira vez dois candidatos latino-americanos. Isso não pode gerar uma divisão, já que não houve acordo para candidatura única?

Não acredito. Isso é um sinal de progresso e mudanças no nosso continente. Agora, é uma decisão que os países da América Latina e do Caribe precisam fazer de acordo com as características dos candidatos. Mas não significa que haverá uma divisão. É simplesmente uma decisão sobre qual dos dois atende aos interesses dos países em uma questão importante, que é a relevância da OMC. Acho que todos devem se orgulhar de que dois latino-americanos estão na final da disputa.

Qual é seu plano para destravar a Rodada Doha?

Se algo não funcionou, significa que o processo ou a forma como o processo foi conduzido, de alguma forma, precisa ser mudado. Fui negociador do México durante a Rodada Uruguai, que acabou se tornando algo parecido com o estágio que estamos agora e que infelizmente falhou nos anos 1990. Foram dois elementos que a levaram para frente. O primeiro foi o Nafta. Três países atuaram juntos para definir novas regras de comércio. Acredito que isso tenha sido bom para os países em Genebra [sede da OMC] serem mais flexíveis. E o segundo fator foi a mudança do diretor-geral. Foi preciso um político que chegou com a experiência de ministro [uma referência ao irlandês Peter Sutherland, chefe da OMC no fim da Rodada do Uruguai] para liderar a organização para um bom resultado. Isso é algo para ter em mente.

O fato de o México dar preferência para o comércio bilateral em detrimento do multilateral não é um problema para sua candidatura?

Nós fomos um dos países mais atuantes na Rodada Uruguai. Fomos um dos mais atuantes ao levar soluções para a mesa na Rodada Doha. Acreditamos no sistema de comércio multilateral. Somos um dos mais ativos usuários dos procedimentos de solução de controvérsias da OMC. E muitos dos casos que trouxemos foram contra os Estados Unidos e outros países desenvolvidos.

Como o sr. vê o Brasil no mercado mundial?

Vejo como um negociador muito poderoso que tem suas formas próprias de definir as políticas de comércio. Nós, no México, gostaríamos muito de um acordo de livre comércio com o Brasil. Acho que seria muito importante para começar a construir uma região mais integrada.

O sr. considera o Brasil um país protecionista?

Não diria isso. O Brasil tem sua própria política comercial. Minha função como diretor-geral será ajudar os países-membros a monitorar se as regras da OMC são cumpridas e avançar na abertura dos mercados.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página