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Morre Jorge Videla, chefe da ditadura militar argentina

Presidente entre 1976 e 1981, ele tinha 87 anos e cumpria pena em prisão

Repressão no país teria matado cerca de 30 mil pessoas; general morreu 'repudiado', diz assessor de Cristina

SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES

Morreu ontem, em Buenos Aires, o general Jorge Rafael Videla, presidente do país entre 1976 e 1981 e principal símbolo da ditadura militar da Argentina. A causa da morte não foi divulgada.

Videla tinha 87 anos e estava cumprindo pena de prisão perpétua na base militar do Campo de Maio. Além disso, enfrentava como réu outros julgamentos por crimes de lesa-humanidade.

A ditadura militar argentina (1976-1983) foi responsável pela morte de cerca de 30 mil pessoas, segundo estimativas de organizações de direitos humanos.

Há divergências quanto a esse número; segundo a Conadep, comissão que levantou nomes de desaparecidos nos anos 80, o número real não alcança 10 mil. Foram sequestrados, ainda, mais de 500 bebês, filhos de militantes e guerrilheiros, entregues a famílias de militares.

Videla já havia sido condenado nos anos 80, após a redemocratização do país, mas leis de indulto e anistia o puseram em liberdade. Em 2010, dentro da política de ampliação dos julgamentos de crimes da repressão promovida pelo governo, Videla voltou a ser condenado.

Ele passou os últimos anos numa cela pequena. "Havia ali uma cama, um aquecedor, um ventilador, uma mesa de luz, um crucifixo, um rosário, uma escrivaninha e duas cadeiras. O banheiro era compartilhado com outro preso", conta o historiador Ceferino Reato, um dos últimos a entrevistá-lo na cadeia.

Nos últimos tempos, Videla vinha dando entrevistas a meios espanhóis. Em uma delas, declarou-se um "preso político" e questionou a legitimidade de um julgamento ocorrido depois de promulgada uma lei de anistia.

Conclamou, ainda, os argentinos de 58 a 68 anos -que, segundo ele, lutaram por um projeto de "reorganização nacional"- a pegarem em armas contra o governo de Cristina Kirchner.

REPERCUSSÃO

Para Graciela Fernandez Meijide, diretora da Conadep, responsável pela documentação dos crimes que permitiu o início dos julgamentos dos ditadores, a morte de Videla fecha um ciclo.

"Não vou comemorar a morte de ninguém, mas é preciso recordar nesse momento como ele permitiu que se desse início a procedimentos ilegítimos e criminosos", disse à Folha.

"Com ele vai-se um símbolo de uma Argentina em que o Exército se sentia na vocação de mudar o país desrespeitando a política", afirmou Meijide. Ela perdeu um filho, Pablo, sequestrado e morto pelo regime aos 17 anos.

Estela de Carlotto, líder da organização Avós da Praça de Maio, que busca netos de desaparecidos, disse que Videla "era um homem mau e sua morte nos deixa aliviados".

O ativista de direitos humanos e prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel afirmou que foi um homem "que passou pela vida causando muito dano e traindo os valores de todo um país".

Segundo o diretor para Américas da ONG Human Rights Watch, José Miguel Vivanco, "a Justiça argentina fez seu papel e o responsabilizou pelos seus crimes".

O governo não se pronunciou publicamente, mas o chefe de gabinete, Juan Manuel Abal Medina, escreveu em sua conta de Twitter: "Videla morreu julgado, condenado, preso em uma prisão comum e repudiado por todo o povo argentino".

O corpo do ditador será enterrado hoje, sem honras militares, proibidas por lei.


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