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Assad considera ser 'provável' invasão estrangeira à Síria

Em rara entrevista à mídia ocidental, ditador declara que acusação de uso de armas químicas seria pretexto

Sírio diz que armas não foram empregadas; para ele, força usada por suas tropas é proporcional à ameaça dos 'terroristas'

DO NEW YORK TIMES

Enfrentando uma rebelião há mais de dois anos, o ditador sírio, Bashar al-Assad, diz em entrevista que espera uma invasão estrangeira em algum momento, mas que não fugirá ou renunciará.

Também justifica as mais de 70 mil mortes na guerra pela necessidade de responder à altura a ataques dos "terroristas", como qualifica os rebeldes.

A conversa ocorreu na semana passada no Palácio Presidencial, em Damasco.

O autor foi o jornalista Marcelo Cantelmi, do argentino "Clarín", numa rara entrevista concedida pelo líder sírio a um veículo ocidental. A distribuição foi feita pelo "New York Times".

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Pergunta - Por que a crise na Síria se espalhou tanto tornando-se mais grave do que eventos parecidos em outros países árabes?

Bashar al-Assad - Diversos fatores, internos e externos, contribuem para a crise, sendo que o mais importante é a intervenção estrangeira. Mas o povo sírio tem resistido e continua a resistir a estas diferentes intervenções. Trata-se de defender o país.

O que o sr. acha sobre a ONU estimar em mais de 70 mil os mortos na guerra até agora?

Precisamos nos perguntar quem está gerando esses números e se suas fontes são confiáveis. Todas as mortes são terríveis, mas dos mortos mencionados muitos são estrangeiros que vieram matar os sírios. E não devemos esquecer que muitos sírios estão desaparecidos. Quantos mortos são sírios e quantos estrangeiros?

Suas tropas têm usado força excessiva e desproporcional em resposta à revolta?

Como se decide se foi usada uma força excessiva? Qual é a fórmula? Respondemos ao terrorismo da mesma forma que somos confrontados por ele. No início, era só o terrorismo local mas depois começou a vir de fora e as armas trazidas por eles eram mais sofisticadas. O debate aqui não é a quantidade de força utilizada ou o tipo de armas, mas o grau de terrorismo que sofremos, para o qual temos o dever de responder.

O sr. denuncia a presença de milícias estrangeiras na Síria que lutam contra o governo, mas também se ouve que existem combatentes do Hizbullah e do Irã participando da luta com tropas do governo.

A Síria não precisa de nenhum apoio de qualquer país. Temos um Exército e forças de segurança. Não precisamos de Irã ou Hizbullah para isso. Não temos combatentes de fora da Síria.

Com relação ao diálogo, qual é a sua opinião sobre a conferência internacional sobre a Síria prevista para o final deste mês entre Rússia e EUA?

Nós apoiamos o diálogo entre os russos e norte-americanos e esperamos que resultem em um encontro internacional que ajudará o povo sírio. Mas não acreditamos que muitos países ocidentais queiram realmente uma solução na Síria. Não acreditamos que forças que apoiam terroristas queiram uma solução para a crise.

Qual o sr. acredita ser o papel de Israel na crise?

Israel está apoiando os grupos terroristas diretamente de duas formas: em primeiro lugar, ao dar-lhes apoio logístico. E também ao indicar lugares e forma de ataque. Por exemplo, eles atacaram uma estação de radar que faz parte de nossas defesas antiaéreas, com capacidade de detectar qualquer avião vindo do exterior, especialmente de Israel.

França, Reino Unido e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, têm afirmado que o seu Exército utilizou armas químicas, para ser mais exato, gás sarin, contra a população...

Não devemos perder nosso tempo com essas alegações. O uso de armas químicas em áreas residenciais significaria matar milhares ou dezenas de milhares de pessoas em questão de minutos. Quem poderia esconder uma coisa dessas?

O sr. acredita que essa alegação pode indicar o caminho para uma intervenção militar na Síria?

É provável que a questão seja usada como um prelúdio para uma guerra contra a Síria. Não esquecemos o que aconteceu no Iraque. Onde estavam as armas de destruição em massa de Saddam Hussein? Mas não podemos descartar sua possibilidade de travarem uma guerra.

Em que baseia sua afirmação?

Israel já atacou semana passada [os bombardeios nos arredores de Damasco]. É bem provável que isto ocorra, especialmente depois de termos conseguido derrotar os grupos armados em muitas áreas da Síria. Esses países enviaram Israel com o intuito de fazer isso levantando a moral dos grupos terroristas. Espera-se que uma intervenção vá ocorrer em algum momento, embora talvez seja de uma natureza limitada.

O sr. diz que tem a situação na Síria sob controle, mas em Damasco e até mesmo aqui, enquanto conversamos, pode-se ouvir artilharia e fogo de morteiro nos arredores da cidade.

O termo controle ou outro qualquer parecido é utilizado quando você está lutando uma guerra contra um Exército estrangeiro.

Mas esta situação é completamente diferente. Os terroristas se infiltraram em uma área extensa e estão fugindo de um lugar a outro.


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