Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Cresce a impaciência com Obama entre seus aliados

Presidente é criticado por não saber negociar propostas com o Congresso

Casa Branca não aprova nem projetos de amplo apoio popular; tática de Obama é sair da capital e culpar 'os políticos'

RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON

"Infelizmente, o presidente não aprendeu a governar. Até ganhou o voto popular [...], mas não sabe trabalhar dentro do sistema", escreveu a colunista do "New York Times" Maureen Dowd há um mês, em artigo que foi especialmente debatido na semana passada em Washington.

Para muita gente que votou em Barack Obama e simpatiza com ele, como a própria Dowd, cresce a impaciência com um presidente criticado por não conseguir aprovar nenhum projeto no Congresso e não saber atuar no "varejo" da política.

Após uma sucessão de escândalos, de discriminação política contra ultraconservadores na Receita americana ao monitoramento de jornalistas da agência Associated Press, Obama foi anteontem a Baltimore e reclamou do que ele chama de "disfuncionalidade de Washington".

"Os políticos parecem ficar caçando escândalos. A minha maior preocupação é com a classe média, é com criar empregos", discursou.

A cena não é nova. Logo após não conseguir aprovar seus planos de Orçamento, Obama sai da capital e aparece em algum lugar público culpando os demais políticos pela paralisia legislativa.

A estratégia tem funcionado com a opinião pública: em pesquisas do jornal "Washington Post", a maioria nos EUA reprova o trabalho do Congresso (80%), os parlamentares republicanos (72%) e quer evitar cortes automáticos no Orçamento (68%).

Mas, nos bastidores do Congresso, esse apoio popular raramente rende alguma vitória para Obama.

APRENDER A NEGOCIAR

O caso mais recente dessa falta de sintonia foi o projeto do governo de criar um sistema de antecedentes criminais compulsório para a compra de armas de fogo, que 90% da população apoiava.

Obama levou familiares das crianças assassinadas na chacina da escola Sandy Hook, em Newtown, em dezembro, a eventos na Casa Branca em março e abril.

Mas, em meados de abril, o projeto foi derrotado em pleno Senado, onde o Partido Democrata de Obama tem maioria. Quatro senadores democratas, de Estados mais conservadores, votaram contra o projeto, assim como quase todos os republicanos.

"Obama acha que pode usar a emoção para pressionar o Congresso. Mas não é assim que adultos com poder agem", escreveu Dowd na coluna polêmica. "Obama odeia negociar. Ele acha que as pessoas deveriam apenas aceitar o que é 'certo' fazer."

O presidente reagiu em público ao artigo. "Ficam dizendo que eu deveria tomar uns drinques com o Mitch McConnell [líder republicano no Senado]. Ora, por que vocês não vão tomar um drinque com ele?", ironizou Obama no mês passado, no jantar dos correspondentes da Casa Branca.

'NÃO GOSTA DE GENTE'

No último mês, diante do vexame da derrota na lei de controle de armas, Obama começou a receber congressistas. Fez dois jantares com deputados e senadores e convidou alguns parlamentares a jogar golfe - algo que seus assessores admitem que o chefe "odeia fazer", segundo vazaram à mídia americana.

No ano passado, Neera Tanden, ex-assessora de Obama e presidente de um centro de estudos ligado ao Partido Democrata, deixou escapar em uma entrevista que "Obama não telefona para ninguém e não é próximo de muita gente nem no partido".

"Surpreende que ele seja um político; na verdade, ele não gosta muito de gente", afirmou Tanden. Ela se retratou diversas vezes, mas é comum que perfis do presidente relatem seu caráter introvertido, apesar do carisma.

Em conversa com a Folha, um ex-deputado democrata atribuiu a inexperiência de Obama ao fato de o presidente ser "jovem demais" e as dificuldades ao seu ar "professoral". "A maioria dos americanos não conseguiria citar cinco ministros de Obama. A equipe é fraca", afirmou.

Há quase quatro meses, o presidente nomeou um novo articulador para trabalhar com o Congresso, Miguel Rodriguez. Várias lideranças republicanas ironizaram ao jornal "Washington Post" a invisibilidade do articulador, perguntando: "Quem é Miguel Rodriguez?".


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página