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Clóvis Rossi

A impotência das democracias

Um grupo armado libanês tem licença para matar na Síria, enquanto o Ocidente se limita a falar e esperar

Por que o Hizbullah, o partido-milícia libanês, pode invadir a Síria, enquanto o Ocidente se limita a resmungar, como fez ontem o ministro britânico do Exterior, Wiliam Hague, para quem tal ação "está ameaçando crescentemente a estabilidade regional"?

Será que as democracias, o pior dos regimes, fora todos os outros, como diria Winston Churchill, não conseguem ser um pouco "menos piores" e pelo menos tentar superar sua impotência/inapetência para pôr fim a uma carnificina de contornos cada vez mais extraordinários?

A oposição a Bashar al-Assad já nem pede tanto: reunida em Madri, limitou-se a solicitar baterias anti-aéreas, para tentar nivelar o campo de jogo, já que o uso --de resto indiscriminado-- do poderio aéreo é que tem assegurado a sobrevida da ditadura.

Tampouco foi ouvida a petição da Turquia para o estabelecimento de um corredor humanitário junto à fronteira com a Síria, para oferecer um mínimo de proteção aos que fogem da guerra. E já são 1,2 milhão os refugiados, o que, na proporção das respectivas populações, significaria 9 milhões de brasileiros em fuga, quase uma São Paulo inteira (sem contar os refugiados internos, que já são 4 milhões).

O fato é que está acontecendo na Síria, sem intervenção, o que a sabedoria convencional disse que ocorreria se ela tivesse sido feita lá atrás, quando a revolta não havia tomado contornos de guerra civil.

Haveria, dizia-se, uma escalada de violência. Está havendo --e só faz crescer.

Haveria, dizia-se, uma divisão sectária. Está havendo, com sunitas matando alauítas (ramo do xiísmo) e vice-versa.

Haveria, dizia-se, a extrapolação da crise para os países vizinhos. Está havendo. Basta lembrar os incidentes envolvendo Israel e forças sírias.

Pior para o Líbano, o elo mais fraco. Nesse país, há um precário equilíbrio político entre sunitas, xiitas, cujo braço armado é o Hizbullah, e cristãos.

Informa o sítio geoestratégico "Stratfor": "As tensões no Líbano aumentaram com o crescente envolvimento [do Hizbullah na Síria]. Os rebeldes [sírios, cuja maioria é sunita] atingiram a cidade libanesa de Hermel com fogo de artilharia no dia 19. E a ira que os libaneses sunitas sentem em relação ao Hizbullah ameaça transformar-se em aberto conflito armado".

Para um país que viveu 15 anos de guerra civil, encerrada em 1990, tudo o que o Líbano não precisa é de um novo conflito.

Mas a batalha em que está envolvido o Hizbullah é de "considerável importância", escreve Issa Goraieb, em editorial para "L"Orient le Jour", um dos principais jornais libaneses: "O controle dessa localidade [Qusair] é vital para o regime de Assad, porque assegura a ligação terrestre entre Damasco e o litoral alauíta. De outra parte, a cidade é um dos principais pontos de passagem para o abastecimento de armas e combatentes procedentes do Líbano [para os rebeldes sunitas]".

Tudo somado, Hague tem toda a razão ao apontar o risco de desestabilização regional. Pena que ele e seus pares se limitem a falar.

crossi@uol.com.br


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