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Irmandade vai às ruas contra golpe, e choques matam 30

Manifestantes exigem retorno do presidente deposto, Mohammed Mursi, derrubado por militares na quarta

Ele continua sob custódia militar em local desconhecido; número 2 da Irmandade Muçulmana é detido

DIOGO BERCITO ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

A Irmandade Muçulmana foi às ruas ontem contra o golpe militar que derrubou o presidente Mohammed Mursi na última quarta-feira, e o Egito teve os maiores confrontos desde a deposição.

No dia tradicional para reza e protestos no mundo árabe, os islamitas entraram em choque com as forças de segurança, resultando em pelo menos 30 mortos --17 dos quais em Alexandria (norte).

O golpe prosseguiu ontem com a dissolução da câmara alta do Parlamento (Shura) --a câmara baixa já havia sido dissolvida.

Na noite de ontem, havia uma disputa violenta na ponte 6 de Outubro, sobre o rio Nilo, com o arremesso de pedras e o disparo de fogos de artifício entre simpatizantes e opositores do governo.

As Forças Armadas tomaram pontes na cidade com veículos blindados, dizendo que a intervenção tinha por objetivo impedir os enfrentamentos entre civis.

A Folha testemunhou a repressão do Exército contra milhares de manifestantes que cercavam o quartel da Guarda Republicana. Ali estaria detido Mursi, segundo membros da Irmandade.

Não está claro como foi iniciado o embate, apesar de haver um vídeo no YouTube aparentemente registrando um militante ser morto a tiros pelas Forças Armadas.

Diante da Folha, a multidão de simpatizantes de Mursi fugia de bombas de gás lacrimogêneo. Ativistas, com dificuldade para respirar, corriam na direção oposta ao quartel. Alguns vomitavam.

A dezenas de metros dali, um homem ensanguentado era levado a uma ambulância. Não era possível determinar a origem do ferimento, mas ele parecia ter sido atingido na região do pescoço. O Exército nega ter usado munição contra manifestantes.

Ativistas cantavam "ihna misriyin" (nós somos todos egípcios) aos militares nas guaritas do quartel.

Outros mostravam cópias do Alcorão (livro sagrado do islamismo) a soldados e diziam que, sendo todos "irmãos", deveriam estar juntos nas ruas.

Simpatizantes da Irmandade estão aquartelados na mesquita de Rabia al-Adawiya, cercada por homens com capacetes de construção civil e pedaços de pau. Ao menos 200 deles foram contratados para a segurança, conforme apurou a reportagem.

Islamitas prometem ficar nas ruas até que Mursi volte à Presidência. "Já destruímos uma ditadura", diz Ibrahim al-Zafarani, ex-líder regional da entidade em Alexandria.

PRISÕES

O país observa os protestos com atenção, em busca de indícios de uma possível guinada à resistência armada.

"Quando as pessoas perceberem que não há respeito às eleições, elas podem se tornar violentas", afirma Mohammed Beltagy, secretário-geral do braço político da Irmandade Muçulmana.

A organização tem sofrido reveses desde a deposição de Mursi. Além dele, ao menos 12 membros foram presos e há relatos de mandados de prisão a outros 300 islamitas.

Na madrugada de hoje (horário egípcio), o número 2 da Irmandade e ex-candidato à Presidência, Khairat El-Shater (seu nome foi barrado pelas autoridades eleitorais), também foi preso, segundo a agência estatal Mena.

Ontem, a promotoria pública pediu a soltura de Saad al-Katatni, presidente do braço político da Irmandade, e do vice-líder, Rashad al-Bayumi. Eles tinham sido presos na quinta-feira.

Circulavam relatos de que Mohamed Badie, líder da Irmandade, estava detido. Ele apareceu em público ontem para desmentir os rumores e insistir em que a organização "trará de volta os direitos do povo egípcio, prejudicado por essa conspiração".

Nas ruas do Cairo, islamitas repetiam em coro: "Ou Mursi ou morte". "O jogo ainda não acabou. O presidente vai voltar. O califado islâmico está vindo", diz Muhammad Saqr, 25.

"Quando as pessoas perceberem que não há respeito às eleições [presidenciais que deram vitória a Mursi], elas podem se tornar violentas"
Mohammed Beltagy, secretário-geral do braço político da Irmandade Muçulmana


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