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'Aproximação é como ida de Nixon à China'
Para pesquisador, Washington e Teerã precisam superar desconfiança mútua em nome de potenciais benefícios
Axworthy compara risco atual com aquele enfrentado por ex-líder americano ao visitar Pequim na Guerra Fria
Para o diretor do Centro de Estudos Persas e Iranianos da Universidade Exeter, Michael Axworthy, a aproximação do governo de Barack Obama com o Irã é comparável à visita do ex-presidente Richard Nixon à China, em 1972. Leia a continuação da entrevista.
Folha - Como avalia o fato de Rowhani ter sido recebido, na volta da viagem à ONU, com disparos de ovos e sapatos em represália a sua conversa com Obama ao telefone?
Michael Axworthy - Isso não deve ser levado muito a sério. [O líder supremo do Irã, aiatólá Ali] Khamenei autorizou que Rowhani fizesse o que fez. Essa autorização continua valendo. O presidente está seguro.
O problema é que Khamenei precisa manter feliz outra base: a Guarda Revolucionária [braço militar de elite do Estado iraniano], cética em relação à normalização [das relações com os EUA].
Por que a Guarda Revolucionária está descontente?
Porque ela se beneficia do isolamento do Irã. Ela tem atividades de contrabando e controla setores vitais da economia. Além disso, é a última guardiã da ideologia.
Assim como Khamenei, Obama precisa enfrentar aqueles que, internamente, dizem "nunca devemos confiar neles". É um salto para os dois lados.
Iniciativas de política externa corajosas e bem-sucedidas desta magnitude supõem riscos. Ocorreu o mesmo quando [o então presidente americano Richard] Nixon foi à China [em plena Guerra Fria, em 1972]. É preciso confiar no interlocutor em nome dos benefícios potenciais.
Por que o Irã até agora não cedeu à pressão das sanções?
É preciso lembrar da importância da guerra Irã-Iraque [1980-1988]. A situação atual está longe de ser tão ruim como naquela época. O regime iraniano espera ser isolado e combatido. Sente-se confortável nesta posição.
Por que, então, o Irã decidiu negociar?
O sistema iraniano sobreviveu bem até agora, mas ele não precisa testar os limites além do necessário. É possível que o regime tenha conseguido o que queria: enriquecer urânio em solo iraniano.
Há quem diga que o Irã partiu para a negociação ao ver os EUA em posição enfraquecida.
Discordo. Os EUA impuseram ao Irã sanções muito danosas à economia e ao nível de vida da população. Eu vejo uma mudança de posição por parte dos iranianos. Eles conseguiram o que queriam e agora querem que as sanções sejam levantadas.
O senhor parece otimista em relação ao futuro dos laços Irã-Ocidente.
Até 2011 apostava-se que haveria um ataque ao Irã. Eu sempre disse que não aconteceria. A reaproximação interessa a todo mundo.
Interessa a Israel também?
Sim. Irã e Israel já foram aliados e há pouco tempo cooperavam. [O analista iraniano-americano] Trita Parsi nos lembra que Israel foi, com exceção da Síria, o mais constante apoiador do Irã contra o Iraque. A severidade das divergências aumentou muito nos anos 90. Não acho que [o premiê israelense] Binyamin Netanyahu e Rowhani irão desfrutar de um almoço persa em Isfahan, mas não estão fadados à inimizade eterna.