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Herdeiro de dinastia política da Índia adota discurso de mudança

Rahul, neto de Indira Gandhi, investe em imagem 'transformadora'

ELLEN BARRY DO "NEW YORK TIMES", EM NOVA DÉLI

Enquanto a dinastia governante da Índia se aproxima da temporada eleitoral de 2014, importante e imprevisível, muitas de suas dúvidas urgentes se condensaram em uma só: pode seu herdeiro pretendido, Rahul Gandhi, projetar a mensagem de transformação política pela qual o país parece ansiar?

Enquanto multidões enfurecidas se manifestavam sobre questões como corrupção e policiamento, Gandhi, 43, muitas vezes parecia em descompasso com o sentimento público. É um rosto belo e possui um sobrenome mágico, mas encarna um status quo maculado e avesso a riscos.

Mas, desta vez, Gandhi tomou a iniciativa. No início de outubro, surgiu sem ser anunciado no meio de uma coletiva de imprensa do Partido do Congresso e tachou de "absurdo total" uma iniciativa apoiada por sua sigla, que daria proteções extralegais a políticos eleitos que enfrentam acusações criminais.

Numa cultura política que funciona com consensos vagos e sinais disfarçados, foi um ato espantoso de contestação --especialmente ao premiê indiano, Manmohan Singh, 81, que fazia visita de alto perfil a Washington.

Mas funcionou. Cinegrafistas de TV passaram o dia inteiro postados diante das portas atrás das quais aconteciam reuniões fechadas em que a velha guarda do partido discutia o que fazer em relação à manobra de Gandhi.

Ao anoitecer, a coalizão governista anunciou que revogaria a medida devido à oposição pública a ela, e Gandhi tinha conquistado uma vitória política importante.

"Vamos ver como Rahul se posiciona. Ele deu um passo grande à frente", comentou Rasheed Kidwai, autor de uma biografia de Sonia Gandhi, a mãe de Rahul. "Está encarando um risco grande, porque o Partido do Congresso é alérgico à mudança."

Na verdade, o suspense em torno da medida pareceu artificial. Embora ela pudesse proteger aliados cruciais do Partido do Congresso, seu timing político era péssimo, em vista da indignação pública crescente com a corrupção oficial, e o presidente da Índia hesitara em assiná-la.

Mas a confusão e a frustração geradas pelo comportamento de Gandhi pareceram genuínas. Frequentemente criticado por manter distância do processo político, ele infringiu várias regras não escritas que protegem o partido contra riscos indevidos.

Teria sido simples para ele, como vice-presidente do partido, cancelar a medida sem alarde, em estágio anterior.

Rahul Gandhi nunca ocupou cargo de gabinete, apesar de já ter sido convidado, e em alguns momentos não estava claro se queria de fato liderar a Índia. Costuma manter distância dos debates ruidosos que definem a vida política e, como sua mãe, evita contato com a imprensa.

Mas sua linhagem fez dele uma sensação, e o Partido do Congresso o propôs como candidato e símbolo de mudanças geracionais. Em suas primeiras campanhas, sua presença em vilarejos do interior causava comoção pública: ele andava sobre tapetes de pétalas de rosas e apertava tantas mãos que, ao fim de um dia de campanha, sua mão direita estava enfaixada.

A família de Gandhi liderou a Índia moderna na maior parte de 66 anos de história. Se ele se tornar premiê, seguirá o caminho de seu pai, Rajiv, sua avó, Indira, e seu bisavô, Jawaharlal Nehru.

Mesmo assim, houve ocasiões em que Rahul vestiu o manto de dissidente interno. Neste ano, pouco antes de tornar-se vice-presidente do partido, fez um discurso criticando fortemente a concentração de poder na Índia --paradoxal, considerando que o poder está concentrado nas mãos de sua própria família.

"Por que os jovens estão revoltados?" ele perguntou no discurso. "Por que estão nas ruas? Estão irados porque estão marginalizados. São excluídos da classe política."


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