Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Igreja promove debate sobre modelo político
DE SÃO PAULOEditor da principal publicação da Igreja Católica em Cuba, Roberto Veiga lançou movimento neste ano para debater a "Cuba Sonhada", em que a eleição direta e competitiva dos governantes do país aparece como requisito para o futuro.
A articulação foi seguida, no mês passado, pela igreja como instituição. A Conferência Episcopal de Cuba pediu em carta pastoral chamada "A esperança não decepciona" que, além das mudanças econômicas, o governo de Raúl Castro faça reformas "na ordem política".
O documento foi considerado o mais importante dos católicos em Cuba em 20 anos. Ao lado da iniciativa de Veiga, mostra a disposição da igreja em garantir um lugar privilegiado no processo de transição de Cuba --levando a crítica além do terreno estritamente econômico permitido aos demais atores e espaços públicos do país.
"A sociedade cubana está mudando de maneira atroz, mas ainda não sabemos quais serão os atores políticos que influenciarão essa discussão", disse Veiga à Folha, em entrevista recente em sua casa em Havana.
"Estamos falando de um horizonte de tempo de seis, dez, quinze anos. Para a vida de uma pessoa é muito, mas para a história de um país não é nada", seguiu ele, que edita a revista "Espacio Laical".
Segundo Veiga, sua intenção e também do movimento Laboratório Casa Cuba, que divulgou o "Cuba Sonhada", é "promover o debate, não dirigi-lo". O grupo inclui católicos, mas também "marxistas críticos", e faz ponte com publicações semioficiais, como a revista "Temas".
CULTURA DE PROTESTO
Indagado se a transmissão de protestos pelo mundo feita pelo canal venezuelano Telesur poderia incentivar manifestações em Cuba, Veiga disse que, além da repressão à mobilização, o que inibe a ida às ruas é a falta de consenso sobre que caminho seguir nas mudanças.
"Penso que o elemento maior, e isso é muito subjetivo, é que alguém protesta quando sabe o que quer, porque tem certeza do que está pedindo. Falta consenso. Essa desorientação está no cidadão mais anônimo até a autoridade mais lúcida", disse.
"Há muitas propostas que hoje até são debatidas em pequenos espaços públicos, mas que têm de ser debatidas no grande espaço público nacional, para que o povo as conheça, para formar diferentes opiniões coletivas, para pô-las em interação, para chegar a consensos."