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Artista dribla embargo a Cuba com pombos

Nova-iorquino Duke Riley treina pássaros para voar de Havana à Flórida, levando charutos e filmando o percurso

Pombos são batizados com nomes de cineastas e contrabandistas; para galerista, trabalho é 'algo próximo de ilegal'

MELENA RIZIK DO "NEW YORK TIMES"

Pablo Escobar estava solto. Ele disparou pelo ruidoso armazém, procurando um canto onde se esconder.

Ele é um "valentão", diz Duke Riley, o artista nova-ioquino responsável pelo treinamento de Escobar, enquanto observa seu voo até um beiral perto do teto. Pablo Escobar é um pombo-correio e serve de acessório --ou cúmplice-- da mais recente exposição de Riley, cujas obras frequentemente violam as leis e as normas do bom senso.

"Em geral, gosto de fazer coisas que não parecem viáveis", diz Riley, "mas que no fim tendem a funcionar".

No projeto que batizou de "Comerciando com o Inimigo", sob o mais absoluto sigilo, Riley treinou um grupo de pombos-correio para voos só de ida de Havana (Cuba) a Key West (Flórida). Metade dos pássaros eram contrabandistas, transportando charutos aos EUA. Os demais eram documentaristas, equipados com câmeras especiais para registrar seu percurso de 160 km pelo estreito da Flórida.

A ideia era pôr em destaque a longa história da pirataria na fronteira sul dos EUA e driblar os aparelhos sofisticados de espionagem que vigiam a costa. Afinal, drones (aviões não tripulados) não prestam atenção em pombos.

"Queria subverter o bilionário sistema de vigilância de alta tecnologia com algo que era usado pelos sumérios na Antiguidade", diz o artista.

Na descrição de seu trabalho, Riley, 41, se define como patriota, e frequentemente suas peças artísticas têm por cenário a linha da costa, explorando as fronteiras entre instituições e autoridades.

Em 2007, ele foi detido depois de fazer flutuar uma réplica de um submarino da era da Guerra de Independência perto demais do transatlântico Queen Mary. ("Apesar de aparecerem nas fotos me apontando metralhadoras", ele diz sobre a polícia do porto de Nova York, "foram muito gentis.") Numa performance em 2009, a batalha naval que ele encenou acabou num embriagado quebra-pau.

Já a performance avícola era mais perigosa, diz Riley, que não quer falar demais sobre seus métodos. "Como os charutos terminaram sendo carregados pelos pássaros, eu não sei", diz cautelosamente.

O Departamento do Tesouro, que fiscaliza o embargo comercial contra Cuba, pareceu perplexo. "Beeeem", disse uma funcionária ao ser informada do projeto. Em comunicado, ela acrescentou que importar ou comerciar produtos cubanos é em geral proibido "para pessoas sujeitas à jurisdição dos EUA".

Riley se limita a explicar que começou a treinar na Flórida com 50 pombos, em 2012, e 23 deles voaram na primeira missão, no terceiro trimestre deste ano. Só 11 voltaram.

Os pombos encarregados de levar charutos receberam os nomes de famosos contrabandistas, como Minnie Burr, que carregava suprimentos sob as saias na Guerra Civil. Os documentaristas receberam nomes de cineastas que enfrentaram problemas com a lei, como Roman Polanski e Mel Gibson. Riley pintou retratos --ou fichas policiais-- de todos os 50 pombos.

As imagens das câmeras levadas pelos pombos são precárias, mas hipnóticas. Os pássaros registraram horas de vídeo: decolagens, pousos, oceano e algumas paradas.

Um pombo bem treinado é capaz de realizar o percurso em cinco horas, mas alguns levaram duas semanas. Um deles pousou num barco onde acontecia uma festa, ao largo da Flórida. "Ele está carregando uma bomba!", diz uma mulher no vídeo.

Dara Metz, uma das donas da galeria onde Riley fará a exposição, não achou que ela requeresse ajuda de seus advogados. "Talvez seja algo próximo de ilegal. Mas não creio que Duke ponha pessoas em risco a não ser ele mesmo."


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