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O extremista da galera

Líder direitista da Áustria ganha votos com roupagem jovem, mas discurso tradicional contra imigrantes muçulmanos

RODRIGO VIZEU COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Heinz-Christian Strache, 44, é rapper, faz histórias em quadrinhos e gosta de ser chamado de HC.

Líder do Partido da Liberdade da Áustria, sigla de extrema direita que ganha força no país, ele afirma: os jovens europeus devem apostar em partidos como o seu se quiserem um futuro melhor.

"Jovens por toda a parte reconhecem que políticas ruins põem em risco suas chances na vida. O FPÖ e partidos similares na Europa são seus parceiros viáveis para um futuro político melhor", disse Strache à Folha por e-mail.

O FPÖ, na sigla em alemão, ganhou força nas eleições legislativas do país de setembro. Obteve 20,5% dos votos, conquistando 40 cadeiras no Parlamento, seis a mais do que antes.

O resultado segue a tendência de crescimento de legendas do tipo em uma Europa que custa a sair da crise econômica e dos altos índices de desemprego, sobretudo entre a população jovem.

Foram eles o foco da campanha do partido para crescer além dos nichos tradicionais da extrema direita, os eleitores mais velhos e do interior. Em um videoclipe que passa longe da sisudez da política austríaca, Strache e a bancada de deputados do FPÖ cantam e dançam um rap com críticas à ajuda financeira da UE à Grécia.

"Nossos adversários ficaram com inveja, foi realmente bem-feito", afirma. Em outro, Strache canta, de óculos escuros e capuz, versos contra a imigração turca.

Os partidos que formam a coalizão no poder, SPÖ (centro-esquerda) e ÖVP (centro-direita) tiveram respectivamente 27% e 24% dos votos, perdendo nove cadeiras e tendo agora, somados, 99 deputados. Strache prevê que a coalizão governista vai desaparecer nos próximos anos.

ROUPAGEM

Apesar da roupagem moderna, as propostas do partido são as de sempre de legendas do tipo: oposição a "qualquer forma" de imigração que sobrecarregue o sistema de bem-estar social e restrições ao estilo de vida islâmico, evocando a liberdade da mulher e a laicidade.

"Muçulmanos têm que obedecer aos hábitos da sociedade austríaca", diz.

Em campanhas para a Prefeitura de Viena, seus slogans eram "Viena não pode se tornar Istambul", "Empregos, não imigração", "Os de casa, não o islã" e "Mais força para o sangue vienense".

O FPÖ já alarmou a cúpula da União Europeia em Bruxelas no início dos anos 2000, quando chegou a integrar o governo austríaco.

Com a crise, boa parte da energia do FPÖ é usada para atacar as políticas da União Europeia de resgate dos países mais afetados, como Grécia, Portugal e Espanha.

A Áustria, embora tenha previsão de crescer só 0,3% neste ano, tem a menor taxa de desemprego da zona do euro (4,9%). O partido propõe que os países mais em crise deixem a moeda única e defende a fórmula de "uma Europa forte com nações fortes".

EXTREMISTA, NÃO

"A Áustria já pagou o suficiente, solidariedade tem limite. Nações produtivas da União Europeia --entre elas, a Áustria-- não podem mais ficar reféns de países com governos que agem irresponsavelmente", critica Strache.

Apesar do histórico e das posições, Strache nega o rótulo de extrema direita.

"Podemos ser considerados um partido de centro-direita", diz.

Ele afirma que a classificação é obra de adversários e acusa a UE de ser "influenciada por uma hegemonia neoliberal e opositora de ideias de partidos que detêm conexões com as pessoas comuns, que não são submetidas a lobbies".

Ele também rechaça as acusações de xenofobia, chamando-as de obra de uma "comunidade politicamente correta". "Críticas ao euro e à UE e obediência ao povo da Áustria não podem ser interpretadas como xenofobia."

Strache afirma que seu partido mantém relações e contatos com outros partidos considerados de extrema direita na Holanda, na Bélgica, na França, no Reino Unido, na Hungria e na Noruega.

Mas ele diz não ter nada a ver com o neonazista Aurora Dourada, da Grécia --no passado, a FPÖ foi acusada de ter sentimentos pró-nazismo, em um país em que o partido de Adolf Hitler teve profundo impacto.


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