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'Maioria da população de Cuba é dissidente'

Para jornalista Marc Frank, maior parte do país caribenho deseja mudança no atual sistema político comunista

Há 25 anos morando em Cuba, ele está lançando um livro sobre as reformas econômicas que estão em curso

FLÁVIA MARREIRO DE SÃO PAULO

Há 25 anos morando em Cuba, o americano Marc Frank construiu uma rede de informantes, incluindo amigos e familiares, que faz dele um dos raros jornalistas a antecipar tendências e notícias na hermética ilha governada por Raúl Castro.

Colaborador da agência de notícias Reuters e do "Financial Times", Frank, 61, lançou no mês passado "Cuban Revelations: Behind the Scenes in Havana" (Revelações de Cuba: nos bastidores em Havana), disponível no Brasil em sua versão eletrônica, que descreve os últimos 20 anos de mudanças no país.

Leia trechos da entrevista concedida à Folha.

Folha - No livro, o sr. fala da importância da "zona cinzenta", os que querem mudança, em Cuba. Quem são eles?
Marc Frank - Em geral, os chamados dissidentes são pessoas que estão de acordo com o que pensam os países desenvolvidos capitalistas. Mas, na minha opinião, poderíamos chamar a maioria da população de Cuba de dissidente. Por quê? Porque estão vivendo há 20 anos em crise e eles querem mudanças. O que eles não querem necessariamente são as mudanças que os países desenvolvidos querem. Eles têm sua própria visão. Querem seguir com sua educação, com seu sistema de saúde, com sua defesa civil e em paz. Essa é a zona cinzenta: a massa de gente em Cuba que diz que já é hora de mudar.
A batalha política entre o Partido Comunista e todos os demais atores é quem vai captar essa gente. Não devemos olhar só para os dissidentes clássicos, temos de olhar dentro do sistema.

Dá para medir que tamanho tem essa zona cinzenta?
Como digo no livro, no começo dos anos 90, havia entre 20% e 30% da população nessa zona cinzenta. Agora é mais de 50% da população. O governo entende perfeitamente bem a situação. Sob Raúl, houve três debates nacionais.
E nesses debates as pessoas realmente fizeram críticas. E quase tudo que pediram está sendo feito, em suas diferentes formas.

Qual o papel da Igreja Católica no processo político cubano?
A Igreja Católica é a oposição mais importante de Cuba. É uma organização nacional, com revistas em cada Província, com apoio financeiro e político de fora, com ideologia diferente da professada pelo Partido. Comunista. A igreja tem um acordo com o governo para a apoiar as reformas, mas a igreja segue falando de uma reforma democrática. Não estamos falando de uma igreja tão grande como no Brasil, mas em Cuba ela é milhões de vezes mais importante que os grupinhos de dissidentes. Tem um papel muito importante, muito construtivo, e bastante crítico.
Raúl faz esse acordo com os católicos porque eles, aqui em Cuba, são muito nacionalistas, estão contra o embargo. Faz todo sentido. Está formando uma "frente unida", uma coalizão maior que só o Partido Comunista.

O sr. diz que os sucessores dos Castro terão de construir sua legitimidade. Por quê?
Os Castro e sua geração têm uma legitimidade muito forte em Cuba. Depois deles, quem virá não terá isso, não tem a história deles. Se a população sentir que os dirigentes estão sendo impostos, ou são alguém que eles não respeitam, isso vai ser um problema político, obviamente. Não sabemos o que vai acontecer em quatro ou cinco anos.

O que dá para dizer de Miguel Díaz-Canel, o novo número 2 escolhido neste ano?
É cedo para dizer que tipo de dirigente vai ser. Agora, é como vice-presidente nos EUA, mais protocolar. Não há dúvida de que é inteligente, e isso dizem os estrangeiros que o conhecem. É aberto no contexto do Partido Comunista e pragmático.
E é bonito. Todas as mulheres que já estiveram com ele me falam isso. É importante. As mulheres gostam de Fidel Castro, gostam de Díaz-Canel [risos].


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