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Matias Spektor

'Livro Branco de Política Externa'

Livro a ser redigido pelo governo ajudará a definir prioridades e disciplinar interesses contraditórios

O governo promete redigir um "Livro Branco de Política Externa".

Caso examine a relação entre objetivos estratégicos e meios disponíveis, a empreitada merecerá um aplauso vigoroso.

Uma estratégia de política externa usa recursos escassos para criar poder, prestígio e influência no cenário mundial. Tal ascensão, quando acontece, oferece ganhos concretos ao cidadão comum, que vive num sistema global interligado.

O processo de elaboração do "Livro Branco" pode ajudar a esclarecer quais estratégias são mais viáveis e desejáveis ao Brasil de hoje.

O exercício é valioso porque o ambiente internacional em que vivemos é bem distinto daqueles de 1995 e de 2003, quando FHC e Lula apresentaram suas estratégias.

De Mercosul a Brics, da presença na África ao relacionamento com as grandes potências, a demanda atual por ajuste e inovação na política externa brasileira é ampla.

O processo do "Livro Branco" poderá aglutinar, pela primeira vez, uma torrente de informações públicas sobre esses assuntos.

Ganhará força se aproveitar a evidência empírica produzida por universidades, Ipea, ONGs e consultorias de comércio exterior, cujas estatísticas e estudos --cada vez mais profissionais-- raramente informam a formulação de política externa.

Ganhará também se conseguir dialogar de fato com uma sociedade civil cada vez mais engajada em assuntos de política externa.

Uma vez pronto, o "Livro Branco" terá várias utilidades. Servirá para brigar por orçamentos e disciplinar os interesses contraditórios das burocracias. Ajudará a estabelecer prioridades, calibrando a ênfase dada a cada assunto da pauta.

Seu valor principal, contudo, será o de provocar uma conversa coletiva sobre diplomacia, energizando o aparecimento de ideias.

Sem dúvida nenhuma, a redação do texto será feita a poucas mãos e em sintonia total com o Planalto. Por isso, o exercício será objeto de disputa entre governo e oposição, alimentando divisões de praxe.

No entanto, qualquer tentativa das partes de empastelar o debate público encontrará um ambiente intelectual mais sofisticado e, por isso mesmo, menos tolerante com a empulhação.

Uma leitura de cabeceira útil para a jornada que começa é o monumental "Strategy: a History", de Laurence Freedman (US$ 14,49).

Em suas relações públicas, o governo diz querer uma diplomacia de resultados concretos.

Talvez o Planalto não precise aguardar a publicação do "Livro Branco" para soltar os 174 atos internacionais parados na Casa Civil à espera de rubrica presidencial.

Tais instrumentos facilitam a cooperação financeira com terceiros países e evitam dupla tributação, por exemplo.

Encalhados, eles punem o trabalhador brasileiro, cujo bem-estar depende do comércio externo. Castigam também as amizades: em julho passado, o primeiro-ministro da Turquia teve de fazer cobrança em caráter pessoal. Ele ainda espera uma solução.

É o tipo de nó que nem mesmo um Itamaraty povoado de engenheiros poderia desatar.


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