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Desorganização agrava crise nas Filipinas

Distribuição deficiente de alimentos e atraso na coleta de cadáveres colocam em risco os sobreviventes do tufão

Ausência de ajuda estimula saques; ontem, oito morreram no desabamento de um muro durante ação

MARCELO NINIO ENVIADO ESPECIAL A TACLOBAN

A incapacidade das autoridades filipinas em coordenar a ajuda às vítimas do tufão Haiyan ameaça agravar a crise humanitária.

Na cidade de Tacloban, uma das mais destruídas, os principais problemas são a distribuição deficiente de suprimentos e o atraso na coleta dos cadáveres.

O odor dos corpos em decomposição aumenta a cada dia, junto com o temor de que surjam epidemias. Carcaças de animais mortos, principalmente porcos, fazem parte dos montes de lixo acumulado.

Ontem, o Conselho Nacional de Redução de Riscos e Gerenciamento de Desastres deu uma nova estimativa de mortos pelo tufão no país: 2.344. A previsão inicial é de que houvesse mais de 10 mil mortos.

"Não apareceu uma só pessoa do governo aqui. Falta tudo, e os corpos estão apodrecendo no meio do lixo", reclama o artista plástico Cesar Ala Kayanong, 56. Sua casa fica a menos de 2 km da Prefeitura de Tacloban.

A escassez de comida e de água potável estimula os saques a lojas e residências, e a insegurança virou um dos principais problemas. O risco é maior à noite, quando a cidade mergulha na escuridão.

Ontem, ao menos oito pessoas morreram quando um muro desabou durante uma tentativa de saque a estoques de arroz em um depósito do governo na cidade de Alangalang, na ilha de Leyte.

AJUDA

A Prefeitura de Tacloban, capital de Leyte, virou o foco da ajuda internacional às vítimas do Haiyan (Yolanda para os filipinos), que arrasou parte da costa leste do país na última sexta-feira.

Equipes coreanas, belgas, francesas, japonesas, turcas, israelenses, americanas e de outros países, além de enviados da ONU, circulam entre as autoridades locais, numa babel humanitária.

Eles tentam articular a assistência necessária. Mas ela esbarra na dificuldade de distribuição e na desorganização do governo filipino.

Há vários exemplos. Dois hospitais ambulantes, um da Bélgica e outro da Alemanha, estão retidos no aeroporto de Manila há dois dias por causa de entraves burocráticos.

Enviados da agência de assistência belga passam o dia na prefeitura à espera de uma plano de ação dos filipinos.

"Numa situação de emergência, a sequência básica é saber quem precisa do que e depois cuidar da distribuição", afirma um dos belgas. "Mas os filipinos não têm informação suficiente nem capacidade de distribuição."

O prefeito de Tacloban, Alfredo Romualdez, diz que até agora 240 corpos foram identificados. Mas estima que os mortos sejam ao menos mil.

Ele jogou a culpa pelo atraso na coleta dos cadáveres no governo federal, que não enviou veículos suficientes. "Só tenho dois caminhões e tenho que escolher: ou faço a distribuição de comida ou a coleta de corpos", diz.

A ineficiência choca voluntários estrangeiros. Médicos israelenses que montaram um ambulatório em Tacloban se dividiam ontem para atender às vítimas, a maioria com cortes profundos e fraturas.

"É um absurdo terem ficado cinco dias sem atendimento. Visitamos hoje uma área devastada e os moradores disseram que éramos a primeira equipe de socorro", disse Arie Levy, chefe da equipe israelense.

Em Tacloban, é possível percorrer vários quarteirões sem ver uma equipe de ajuda. A ausência estimula iniciativas fora da lei. "Não recebi um grão de arroz do governo. O jeito foi invadir um mercado em busca de comida", diz o tatuador Thata Gilbert.


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