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Mineiros chilenos brigam por direitos de filme sobre resgate
Operários salvos na mina San José afirmam ter sido enganados por advogados que negociam com produtor
Mario Sepúlveda, que será vivido por Antonio Banderas no cinema, recusou-se a se reunir com o astro espanhol
Quando 33 mineiros chilenos foram alçados para a superfície depois de passar 69 dias presos numa mina de cobre que desabou, em 2010, mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo acompanharam o resgate, transmitido ao vivo pela televisão.
Era inevitável que a história chegasse ao cinema. Mas agora, semanas antes do início previsto das filmagens de um projeto de Hollywood estrelado por Antonio Banderas e Martin Sheen, os mineiros estão envolvidos numa disputa sobre o contrato pelo qual cederam os direitos sobre suas histórias de vida.
Vários afirmam ter sido enganados por advogados --que os teriam levado a abrir mão de royalties-- e abandonados pela Justiça chilena.
"Precisamos resolver nossas pendências com os advogados e o produtor (do filme), que está nos EUA", disse Luis Urzúa, líder do grupo no período sob a superfície. Ele e outros mineiros dizem ter sido pressionados a assinar os contratos, que estariam disponíveis só em inglês.
Outros afirmam que o texto foi redigido também em espanhol e foi resultado de uma votação em grupo.
Mario Sepúlveda, que foi porta-voz dos mineiros em vídeos gravados dentro da mina, também protesta. Ele deve ser representado por Banderas no filme. Quando o astro espanhol viajou ao Chile, Sepúlveda recusou um encontro com ele.
"Não haverá reunião com Banderas enquanto as condições do contrato não forem resolvidas", afirmou Elvira Valdivia, mulher e agente de Sepúlveda, em entrevista ao jornal chileno "La Tercera".
Parte da disputa legal diz respeito a quem vai controlar os direitos de longo prazo sobre elementos cruciais no resgate, incluindo um diário particular escrito pelos mineiros, além de detalhes ainda desconhecidos sobre os 17 primeiros dias que eles passaram debaixo da terra sem nenhum contato com o mundo.
Apesar do impasse, as filmagens devem começar em breve na Colômbia. As cenas em que os homens estavam presos debaixo da terra serão rodadas em uma mina desativada. Outras cenas serão filmadas no Chile.
O filme será dirigido por Patricia Riggen e falado em inglês. Jennifer Lopez desistiu do projeto, alegando impossibilidade de conciliar as filmagens com seu trabalho como jurada do programa de TV "American Idol".
OUTRAS BATALHAS
A controvérsia em torno do filme é a mais recente de uma série de batalhas que os mineiros vêm travando desde que foram resgatados. Muitos ainda se queixam de pesadelos, recordações do sofrimento por que passaram e vários tipos de trauma.
Poucos conseguiram emprego estável. Depois do exagero das promessas de riqueza pós-resgate, eles enxergam o filme como a última oportunidade de acrescentar um pouco de fortuna à fama.
O sentimento de amargura é intensificado pela decisão das autoridades chilenas de encerrar a investigação sobre os proprietários da mina San José, o local do acidente. Em agosto, o promotor Hector Mella anunciou que a apuração do governo não reuniu provas suficientes para apresentar uma acusação.
