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Estender a mão trará resultado, diz analista

Pesquisador Reza Marashi afirma que EUA e Irã temiam se ver sem opções e forçados a partir para o confronto

Iraniano diz que avanço no programa nuclear é sinal de que as sanções do Ocidente não foram a motivação do acordo

SAMY ADGHIRNI DE TEERÃ

O acordo nuclear multilateral firmado no ultimo domingo só foi possível porque Irã e EUA, os dois principais interessados, ficaram sem alternativa diante da escalada da tensão acerca do programa nuclear iraniano.

O diagnóstico é do analista Reza Marashi, que é diretor de pesquisa do Conselho Nacional Iraniano-Americano, com sede em Washington, e consultor de governos ocidentais para temas relacionados ao Irã.

Em entrevista à Folha, por e-mail, Marashi, que esteve em Genebra acompanhando as negociações, rebate a tese de que as sanções pressionaram Teerã a aceitar um entendimento.

Folha - Como avalia o acordo entre Irã e potências?
Reza Marashi - O acordo é um primeiro passo consistente num processo muito mais amplo e complicado. O pacto sela a base sobre a qual os dois lados podem trabalhar, e todas as concessões são reversíveis. Ou seja, se um dos lados trapacear, o outro poderá dar marcha a ré com relativa facilidade.
As potências receberam garantias de limitação e reversão concreta do programa nuclear iraniano, e o Irã recebeu garantias de alívio das sanções e reconhecimento de que continuará havendo enriquecimento [de urânio] em solo iraniano. Por ora, é um desfecho sem perdedores.

No governo anterior, o então negociador Said Jalili preparava com as potências um acordo parecido com o atual. Por que não deu certo?
Jalili não estava preparado para fazer as concessões que a nova equipe de negociadores fez em Genebra. É justamente porque Zarif [chanceler iraniano] e sua equipe estavam dispostos a dar mais que eles receberam mais em contrapartida.
A mudança de clima após a eleição de Rowhani foi decisiva para o avanço do processo diplomático, mas o mais importante é que tanto EUA quanto Irã estavam sem opção para escalar o conflito.
Se os EUA aumentassem sanções usando outros meios de pressão, isso soaria como declaração de guerra. E, se o Irã tivesse continuado avançando nos aspectos técnicos de seu programa nuclear, isso teria aumentado a probabilidade de confrontação.
Ambos os lados se deram conta disso e tomaram a sábia decisão, ao menos por enquanto, de afastar a possibilidade de guerra.

O Irã cedeu por causa do efeito das sanções?
Sanções ajudaram a moldar decisões do governo iraniano, mas não há evidência de que elas tenham restringido as ambições nucleares iranianas. Pelo contrário: ficou claro que o Irã avançou seu programa nuclear em resposta às sanções.
Em 2005, o Irã negociava para tentar conservar algumas centenas de centrífugas. Em 2013, o país tem 19 mil centrífugas e enriquece a 20%. Se o Irã estiver perdendo nessa equação, os EUA com certeza também não estão ganhando.

O pacto pode criar entendimento bilateral Irã-EUA?
As relações entre EUA e Irã já vêm melhorando há alguns meses; elas continuarão melhorando na medida em que as negociações continuarem e que os dois países voltem a ficar familiarizados um com o outro. Cooperação geopolítica é outra história. Na verdade, ninguém sabe se essa cooperação é possível, porque todo o foco está nas negociações nucleares.
Mas, se o progresso continuar nessa frente, EUA e Irã explorarão a possibilidade de cooperação geopolítica. Goste-se ou não, a segurança regional foi piorando enquanto os EUA tentavam isolar o Irã. Estender a mão tende a produzir melhor resultado para todos. O tempo dirá.


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