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Clóvis Rossi

Aiatolás na fortaleza capitalista

O presidente do Irã vai a Davos, em mais um passo para sair de décadas de isolamento e sanções

Antes mesmo de fechado, no domingo, o acordo sobre o programa nuclear iraniano, o presidente Hasan Rowhani já havia confirmado sua presença no convescote por excelência do capitalismo que é o encontro anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos.

Sinal claro de que Rowhani está sendo fiel à sua pregação na campanha eleitoral, no sentido de que queria tirar o Irã do isolamento a que foi condenado pelas suspeitas em torno de seu programa nuclear.

Imagino que Rowhani será recebido com tapete vermelho em Davos. A clientela essencial desses encontros são as grandes corporações multinacionais. Não há grife realmente importante que não mande representante a Davos.

Até Dilma Rousseff, frequentemente acusada de desconfiar e/ou desprezar os capitalistas, decidiu comparecer neste ano e acompanhada por pelo menos três ministros (Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo e Marcelo Neri, ministro de Assuntos Estratégicos) mais Luciano Coutinho, presidente do BNDES, Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, e uma delegação de cinco representantes da Petrobras, chefiada pela presidente Graça Foster.

Não deixa de ser paradoxal que o governo brasileiro, que vem respeitando há pelo menos 20 anos os cânones do capitalismo, precise deslocar-se a Davos para vencer resistências, ao passo que o Irã, cujo confronto com o Ocidente é o mais agudo de todos os países mais ou menos relevantes, se faz cortejar.

Afinal, o acordo sobre o programa nuclear promete pôr fim às sanções impostas ao Irã, o que significa que se abrem perspectivas de bons negócios --e bons negócios é a grande linguagem de Davos.

Por isso, é razoável supor que outro chefe de governo que confirmou presença, o israelense Binyamin Netanyahu, seja recebido mais friamente se levar a Davos, como parece inevitável, suas restrições ao acordo nuclear com o Irã e, por extensão, ao levantamento das sanções.

Por mais que os homens de negócio prefiram Israel aos aiatolás, prevalece, neste particular momento, a avaliação que faz Ray Takyeh, analista-sênior do Council on Foreign Relations: "Uma vez que os dois lados concordaram sobre o dossiê nuclear, talvez possam mover-se em direção a uma cesta mais ampla de cooperação".

Negócios à parte, há um território em que o Ocidente e o Irã têm interesses comuns: combater os extremistas sunitas que estão ativos principalmente no Iraque e na Síria.

O interesse do Irã é óbvio: manter e fortalecer o eixo xiita Teerã/Bagdá/Damasco, com ramificação no Líbano. O do Ocidente é o de evitar que a Al Qaeda preencha os vazios deixados pela dificuldade dos EUA em ditar os rumos no Oriente Médio ou no mundo muçulmano mais abrangentemente.

Mas as coincidências terminam aí. Afinal, escreve Takyeh, "o assalto do Irã à ordem árabe definirá os parâmetros da política do Oriente Médio por algum tempo à frente". O Ocidente terá que definir como lidará com esse assalto, agora que o Irã está saindo do isolamento.


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