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Quem é a primeira-dama?
Sem negar romance com atriz, o presidente da França, François Hollande, se esquiva de dizer se levará a mulher em viagem aos EUA
Era para ser uma entrevista coletiva sobre sérios assuntos econômicos, mas a imprensa --francesa e mundial-- só pensava naquilo: perguntar ao presidente da França, François Hollande, 59, sobre o seu suposto envolvimento com a atriz Julie Gayet, 41.
Mantendo a tradição do "nada a declarar", Hollande afirmou que assuntos particulares devem ser tratados de modo privado --mas, além de não negar o romance, disse viver um momento "doloroso" com sua companheira, Valérie Trierweiler, 48, hospitalizada desde sexta-feira.
Questionado se levará Trierweiler como "primeira-dama" na visita aos EUA prevista para 11 de fevereiro, em que se encontrará com o casal Barack e Michelle Obama, o presidente se esquivou.
Disse aos quase 700 jornalistas presentes que "não era o lugar nem o momento" para falar da sua vida particular e que, para ele, o essencial era a "transparência".
A internação da mulher de Hollande --"para descansar", segundo seu porta-voz-- ocorreu no mesmo dia em que a revista francesa de celebridades "Closer" publicou reportagem de sete páginas sobre o suposto "affair" entre o presidente francês e a atriz.
Na entrevista de ontem, Hollande se disse indignado com a "Closer" por ter comprometido a sua privacidade. Ao mesmo tempo, negou que vá processar a revista --pela lei francesa, como presidente, Hollande é protegido por imunidade, mas também não pode acionar o Judiciário.
Formalmente, não há primeira-dama na França, embora a mídia se refira assim a Trierweiler. A Constituição do país não concede status ao cônjuge de quem ocupa a Presidência, mesmo quando ele ou ela é legalmente casado.
A inexistência legal, no entanto, é contrariada na prática: a mulher do presidente tem escritório e secretária no Palácio do Eliseu, oficialmente para receber e-mails dos cidadãos e responder a eles, e suas despesas estão no Orçamento presidencial. Também tem direito a guarda-costas.
BRIGA DE MULHERES
Antes do romance com a jornalista Trierweiler, assumido em 2007, Hollande viveu durante quase 30 anos com Ségolène Royal, sua colega de Partido Socialista e candidata à Presidência derrotada por Nicolas Sarkozy em 2007 --Royal é a mãe dos quatro filhos do presidente.
O romance entre Hollande e Trierweiler foi revelado por um website francês antes que os políticos socialistas anunciassem sua separação, em junho de 2007, logo depois das eleições; a jornalista só assumiria a relação com o hoje presidente numa entrevista em novembro daquele ano.
Em 2012, Trierweiler pôs o marido-presidente em uma saia justa ao tuitar em apoio ao principal rival de Royal na eleição legislativa francesa. Royal, por sua vez, definiu a jornalista como "grosseira e agressiva" em entrevista à televisão no ano passado.
Já o pivô do atual escândalo, Julie Gayet, participou em 2012 de um videoclipe eleitoral do candidato Hollande à Presidência. No vídeo, a atriz classifica o político de "homem humilde, formidável e que escuta a verdade".
MITTERRAND
As relações --supostas ou reais-- dos presidentes franceses fora do casamento sempre repercutiram fortemente na mídia do país, apesar dos esforços para que os casos se mantivessem privados.
O episódio mais notório envolveu o último socialista a ocupar o Eliseu antes de Hollande, François Mitterrand, presidente de 1981 a 1995.
Apenas em 1994 foi revelado que, casado com Danielle desde 1944, Mitterrand tinha uma amante, Anne Pingeot, e uma filha de 20 anos da relação com ela, Mazarine. Tanto Danielle como Pingeot e a filha compareceram ao enterro do presidente, em 1996.