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Falta de papel ameaça jornais na Venezuela

Diretores de veículos acusam gestão Maduro de dificultar a importação como manobra contra mídia oposicionista

Dez diários do interior do país fecharam desde outubro; governo alega que liberação de divisas tem outras prioridades

SYLVIA COLOMBO DE SÃO PAULO

"Em menos de dois meses, seremos um país sem jornais impressos, algo que nunca se viu no mundo." A frase é de Miguel Otero, diretor do "El Nacional", um dos mais importantes jornais venezuelanos, com sede em Caracas.

Na última semana, o "Nacional" anunciou em editorial que, devido a travas burocráticas impostas pelo governo Nicolás Maduro, só tem papel para imprimir jornal nas próximas seis semanas.

Desde outubro último, dez diários do interior fecharam, e 21 anunciaram que podem fazer o mesmo caso recursos para a compra de insumos não sejam liberados pela Cadivi (Comissão de Administração de Divisas). O "El Universal", rival do "El Nacional", também disse passar pelas mesmas dificuldades.

Os jornais venezuelanos dependem de papel importado, principalmente do Canadá (cerca de 80%). Para obtê-lo, as empresas devem pedir ao órgão permissão para comprar dólares. Além disso, é necessário obter uma autorização que justifique a compra de produto importado.

"São trâmites demorados, que requerem muita antecedência. O governo demora a liberar a compra. Uma vez aprovada, não libera o recurso. Nessa espera, os jornais fazem reformas, acabam com suplementos, para resistir até quando puderem. Muitos não vão conseguir", afirmou à Folha Carlos Carmona, proprietário e diretor do jornal "El Impulso", de Barquisimeto.

Desde 2003, há um controle estatal do câmbio que impede a livre compra e venda de divisas, administradas exclusivamente pela Cadivi.

Nos últimos meses, o "Nacional" eliminou os suplementos de moda e de literatura. O "Impulso" passou de quatro cadernos para dois. Em editorial, o jornal, o mais antigo da Venezuela, anunciou que só tem como circular até o começo de fevereiro.

"É um ataque por via indireta, porém óbvia. Equivale a cortar o suprimento de água de um pequeno vilarejo", disse em entrevista à Folha o jornalista americano Jon Lee Anderson (autor de "Che ""Uma Biografia"). "Maduro está imitando a China comunista, o stalinismo. Não entendo bem o que quer fazer. Associado ao fato de ser inábil para lidar com a economia, isso não leva a Venezuela a um futuro promissor", completa.

O governo do país defende-se dizendo que a liberação de divisas para comprar insumos obedece a uma hierarquização de importações.

Desde 2012, o papel-jornal não é considerado "prioritário" na hora de obter autorização para a compra. A deputada governista Tania Díaz, vice-presidente da Comissão de Poder Popular e Meios de Comunicação da Assembleia Nacional, disse que "os jornais que estão reclamando são os que mais receberam insumos nos últimos meses".

Otero refuta, dizendo que desde maio o "Nacional" não obtém autorização para comprar papel ou mesmo tinta.

"É um avanço final. O Estado já eliminou a oposição nas TVs, com expropriações e outras táticas; agora vai para os jornais. Não é novo, Perón já fez isso nos anos 40. E o kirchnerismo repete a estratégia do asfixiamento econômico da mídia hoje, impedindo anúncios nos jornais de oposição", diz Cláudio Paolillo, da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa).

Segundo Otero, as manobras contra a imprensa oposicionista se agravaram na gestão Maduro. "Nos 14 anos de Chávez nunca tivemos esse problema. As autorizações saíam com normalidade. Maduro aprova a compra de divisas, mas não as libera", diz.

REDES SOCIAIS E TVS

Na última semana, Maduro nomeou um vice-ministério para cuidar exclusivamente das mídias sociais. José Miguel España terá como atribuição incrementar a produção de conteúdo de propaganda em contas de Twitter e Facebook ligadas ao governo e observar o que se publica na rede por contas independentes e de oposicionistas.

A medida alinha-se a decisão recente do equatoriano Rafael Correa, que anunciou uma emenda incluindo as mídias sociais no monitoramento previsto pela Lei de Mídia, em vigor desde junho.

Além disso, o governo tem se reunido com representantes das TVs para pedir que revisem sua programação, acusada de incentivo à violência.


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