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Clóvis Rossi

Só falta apertar o botão do pânico

Não há razão para crise geral nos emergentes, mas será que os mercados agem racionalmente?

A "mesada" que papai Estados Unidos dava, indiretamente, aos países emergentes está no fim. Era uma injeção de dinheiro nas veias da economia, o que gerava sobra de dólares, que, por sua vez, era encaminhada aos emergentes, que ofereciam melhor retorno.

O ministro Guido Mantega chegou a reclamar de que estava em curso uma "guerra cambial", porque o excesso de dólares provocava uma valorização do real, que foi de fato muito ruim para as exportações brasileiras.

Agora, o ministro precisa inventar outra expressão porque está ocorrendo o inverso: a escassez de dólares causa a desvalorização do real, com efeitos sobre a inflação.

Mas a inflação tende a ser o menor dos problemas porque os investidores --nervosos com a Argentina, por exemplo-- podem apertar o botão do pânico e causar uma nova crise, embora não existam razões objetivas para ela.

É como diz a revista "The Economist" no número que está nas bancas: "Não há razão para uma crise ampla nos mercados emergentes. Mas investidores nervosos ainda podem causar uma".

Há antecedentes, como lembrou Paul Krugman, Nobel de Economia:

"Estamos ouvindo a temida palavra contágio' --o tipo de contágio que, uma vez, fez com que uma crise na Tailândia se espalhasse pela Ásia, mais recentemente fez com que uma crise na Grécia se espalhasse pela Europa e, agora, como todo mundo teme, pode fazer com que os problemas da Turquia se espalhem pelos mercados emergentes do mundo".

Krugman citou a Turquia, forçada a uma baita alta de juros, como poderia ter mencionado a Rússia. Afinal, o tabloide "Komsomolskaya Pravda" acaba de sugerir a seus leitores que passem entre 30% e 40% de suas poupanças para o dólar ou o euro, desconfiado da vitalidade do rublo.

A "Economist" pode alertar o quanto quiser para o irrazoável que é supor que o mundo emergente está na iminência de uma nova crise asiática (hipótese, aliás, levantada pelo usualmente sóbrio "Financial Times" em artigo no dia em que a Argentina desvalorizou sua moeda). Mas prevalece a avaliação para o sítio Infolatam de Federico Steinberg, mestre em economia política internacional:

"O ambiente é propício para que, ante qualquer evento desencadeante, como uma crise na Argentina, os mercados exibam seu habitual comportamento de reação exagerada irracional, iniciando um contágio que dê lugar a crises financeiras em vários mercados emergentes".

O azar do Brasil é a geografia: está situado no mesmo subcontinente da Argentina e, pior ainda, da Venezuela, dois países para os quais a "Economist" avisa que "a festa acabou". Também acho. Aprendemos aqui mesmo no Brasil que artificialismos como o dólar fixo ou mais ou menos fixo e inflação tresloucada sempre terminam em crise. E o dólar oficial, na Argentina, ainda tem uma defasagem de 50% em relação ao mercado paralelo.

Na hora em que a festa terminar de vez, adiantará gritar que Buenos Aires não é a capital do Brasil?

crossi@uol.com.br


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