Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

ONU critica igreja por encobrir pedofilia

Em relatório, órgão diz que Vaticano não reconhece extensão de abusos sexuais praticados por padres no mundo

Igreja Católica chama texto de "ideológico" por defender aborto, planejamento familiar e casamento gay

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Comitê da ONU para os Direitos da Criança divulgou ontem um relatório com críticas duras à maneira como o Vaticano tem lidado com os casos de pedofilia envolvendo padres, que colocaram em xeque a reputação da Igreja Católica nas últimas décadas.

"O comitê manifesta preocupação com o fato de que a Santa Sé não reconheceu a extensão dos crimes cometidos, não tomou as medidas necessárias para enfrentar o abuso sexual de crianças e adotou políticas e práticas que levaram à continuidade dos abusos e à impunidade dos responsáveis por eles", diz o documento.

Apesar de reconhecer avanços na maneira como a igreja tem tratado o problema, o órgão da ONU argumenta que o afastamento dos suspeitos de pedofilia tem de ser "imediato".

No passado, a hierarquia católica acabou facilitando a proximidade entre sacerdotes pedófilos e crianças ao transferir padres suspeitos para outras paróquias, em vez de afastá-los e puni-los, afirma o comitê.

"A prática de transferir os responsáveis pelo abuso, que permitiu que muitos sacerdotes continuassem a ter contato com crianças e molestá-las, ainda coloca menores em situações de alto risco em muitos países."

ERRO DE CÁLCULO

O irônico é que, no mês passado, o Vaticano acabou negando publicamente um de seus principais avanços recentes no combate à pedofilia e, mais tarde, voltou atrás.

No último dia 16, dois altos funcionários da Santa Sé, o arcebispo Silvano Tomasi, representante do Vaticano em Genebra, e o bispo Charles Scicluna, foram ouvidos pelo mesmo comitê da ONU sobre o tema.

Um dia depois, a agência de notícias Associated Press publicou reportagem afirmando que, em 2011 e 2012, cerca de 400 padres tinham sido laicizados (ou seja, perderam seu status de sacerdote e a proteção oficial da igreja) por terem sido acusados de pedofilia.

O porta-voz papal, Federico Lombardi, de início declarou que os dados estavam errados, mas acabou por confirmá-los pouco depois. A lista constava de planilhas recebidas pela própria delegação do Vaticano na ONU e incluía tanto padres laicizados quanto outros que, sob acusação, decidiram deixar o sacerdócio.

Os dados sugerem um esforço considerável contra o problema durante os últimos anos do pontificado de Bento 16. De fato, ele dobrou o tempo para a "prescrição" dos processos envolvendo abuso sexual e acelerou a expulsão dos acusados, além de ter sido o primeiro papa a pedir perdão às vítimas.

O papa Francisco, por sua vez, criou uma comissão para lidar com esses crimes. O problema, no entanto, é que as atuais regras, embora recomendem que os bispos denunciem os casos de pedofilia às autoridades seculares, não dizem que essa denúncia é obrigatória. Para associações de vítimas de abuso, tais esforços não são suficientes.

"O relatório dá esperança às centenas de milhares de vítimas. Agora, cabe aos governos proteger quem é vulnerável, porque os funcionários da igreja não conseguem ou não querem fazê-lo", afirmou a ONG americana Snap.

A reação da igreja ao relatório, porém, também é afetada pela decisão do comitê de pedir no texto que as paróquias ofereçam planejamento familiar e que a Santa Sé repense sua visão sobre o aborto e o casamento gay.

O arcebispo Tomasi lamentou que o relatório não parecia ter levado em conta sua visita ao comitê, no qual disse ter mostrado exemplos claros da ação da Santa Sé contra o problema.

Declarou que "um único caso de abuso já seria demais", mas disse também que a dureza do relatório poderia ser explicada, em parte, pela pressão de ONGs pró-casamento gay, cujas observações "reforçaram uma linha ideológica" do documento.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página