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Tensões entre etnias afegãs reacendem medo de guerra civil

General é detido após declarar na TV que os pashtuns, majoritários, são os 'verdadeiros donos' do Afeganistão

Maioria dos talebans pertence à etnia; ciente do perigo, governo de Karzai tornou crime a incitação de ódio étnico

AZAM AHMED

Tudo começou com um comentário improvisado num programa na TV, traçando uma linha étnica brutal até mesmo para padrões afegãos.

"Os pashtuns são os governantes e proprietários do Afeganistão; são os verdadeiros habitantes do Afeganistão", disse o general Abdul Wahid Taqat, antigo oficial dos serviços de inteligência. A palavra Afeganistão quer dizer "onde vivem os pashtuns".

As declarações deflagraram protestos e uma explosão de comentários nas mídias sociais. Para conter a indignação, o presidente Hamid Karzai, ele mesmo pashtun, ordenou a detenção de Taqat e criticou a mídia por tentar "fomentar o ódio".

"Não fosse a unidade nacional do povo, seria impossível viver em Cabul por um segundo", disse o presidente.

Mais de 100 mil pessoas morreram na guerra civil após a saída dos soviéticos do Afeganistão, em 1989 --conflito que em larga medida se dividiu em linhas étnicas, opondo os pashtuns às minorias tadjique, hazara e usbeque.

Brigas sobre questões étnicas, no Legislativo e em programas de rádio, começaram a se converter em brigas de socos, um lembrete de que a frágil trégua entre as etnias do país, sustentada por tropas estrangeiras e por bilhões de dólares em ajuda externa, pode facilmente desabar.

O governo está consciente do perigo, ao ponto de ter transformado a incitação de ódios étnicos em crime. Poucas autoridades duvidam de que, se o Afeganistão voltar a passar por inquietações civis, boa parte da violência irromperá em linhas étnicas.

DEFINIÇÃO DE AFEGÃO

Os legisladores vêm discutindo há meses, em alguns momentos com violência, sobre o que significa ser afegão.

Muitos membros das minorias étnicas acreditam que a palavra se refira só aos pashtuns e desejam ver suas etnias citadas em seus novos documentos nacionais de identidade, mas alguns líderes pashtuns objetam a isso.

"Estamos defendendo a Constituição afegã, segundo a qual todos os cidadãos, independentemente de seu grupo étnico, serão chamados de afegãos", disse Aryan Yoon, legisladora pashtun.

Outros encaram a questão de modo diferente, entre os quais os funcionários do Mitra TV, canal voltado aos tadjiques. "Um grupo étnico específico está tentando se manter dominante", diz Asar Hakimi, consultor da estação. "Se eles detiverem o poder exclusivamente, resultará em desastre, como nos Bálcãs".

Sharifullah Safai, policial morador de Arzan Qemat, bairro majoritariamente pashtun de Cabul, diz que, se as novas carteiras de identidade não definirem seus portadores como "afegãos", isso será inaceitável para ele.

"Afegão não quer dizer pashtun", ele afirma. "Quer dizer todos que vivam aqui".

Ainda assim, Safai acredita que os demais grupos étnicos afegãos discriminam os pashtuns, e não o contrário, opinião compartilhada por muitos dos pashtuns.

Em certos aspectos, a divisão étnica sentida de maneira mais aguda é a que separa os pashtuns dos demais --acentuada pelo fato de que os militantes do Taleban que lutam contra o governo e a comunidade internacional são quase todos pashtuns.

"Exército e política afegãos não conseguirão impedir que o Taleban assuma o poder", diz Safai. "A ascensão do Taleban prenunciará uma guerra civil étnica", acrescenta.


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