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Parlamento depõe presidente da Ucrânia

Decisão foi tomada após governante ter deixado a capital e manifestantes terem tomado palácio presidencial

Em entrevista a TV, Yanukovich denuncia golpe; ex-premiê que estava presa é solta e vai disputar eleições

DIOGO BERCITO ENVIADO ESPECIAL A KIEV

O presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, viu desmoronar ontem sua estrutura de poder ao ser deposto pelo Parlamento do país, um dia depois de ter firmado com a oposição um acordo para tentar solucionar a crise política iniciada em novembro.

Kiev havia amanhecido com baixas expectativas quanto a ver cumpridas as exigências das ruas, mas a noite encerrou-se com o retorno quase heróico da ex-premiê Yulia Timoshenko, libertada por voto parlamentar após 30 meses de uma detenção vista como revanche política de Yanukovich.

Na já icônica praça da Independência, palco de protestos e de conflitos letais, manifestantes mantinham um incomum silêncio enquanto assistiam aos discursos --e às missas fúnebres-- no palco.

Mas estouravam gritos de "slava ukraini!" (glória à Ucrânia) e as respostas quase automáticas de "heroyam slava" (glória aos heróis).

O impeachment do presidente foi aprovado horas depois de ele ter deixado a capital do país, na sequência da semana em que ao menos 82 foram mortos durante embates violentos.

Com o sumiço do policiamento ostensivo dos últimos meses, ativistas ocuparam o palácio presidencial sem encontrar resistência.

Yanukovich, porém, afirmou em entrevista a uma emissora de televisão --gravada antes da deposição-- que não deixou o cargo de presidente e que os eventos políticos na Ucrânia são os de um golpe de Estado.

Ele comparou as ações da oposição à tomada de poder pelos nazistas na Alemanha dos anos 1930.

O paradeiro de Yanukovich é desconhecido, mas acredita-se que estivesse na cidade de Kharkiv, no nordeste do país, região onde encontra maior apoio.

Havia relatos de que tentasse fugir para Rússia, enquanto manifestantes tomavam seu suntuoso palácio nos arredores da capital.

Documentos foram encontrados em um local próximo. A oposição diz que o governo tentava destruir esses papéis.

Foram tomados também o escritório presidencial e os restantes edifícios da administração oficial.

Milícias formadas por voluntários passaram a controlar o acesso.

Manifestantes armados com capacetes, bastões e escudos cercavam o Parlamento, e ao menos um parlamentar governista foi agredido ao chegar à construção.

PORTÕES

Os eventos de ontem dão conta da rápida erosão do poder no país, em crise desde que o governo preferiu reforçar laços com a Rússia a assinar acordo com a União Europeia, em novembro.

A repressão do governo, considerada excessiva, intensificou os protestos, que passaram a exigir sua queda.

Ontem, as ruas em que franco-atiradores derrubaram manifestantes nos últimos dias estavam tomadas por manifestantes envoltos nas bandeiras nacionais.

Missas e funerais ocorriam por toda a cidade, entre velas e altares improvisados.

A reportagem da Folha foi autorizada a cruzar os portões do escritório presidencial, em Kiev. Ali, Ostap Kryvdyk, 34, diretor de uma milícia chamada Forças de Auto-Defesa, falava a um pequeno grupo de jornalistas.

"O presidente Yanukovich deixou Kiev para sempre. Ele matou muitas pessoas aqui. Grande parte da Ucrânia está governada pelo povo por meio de conselhos locais."

Segundo Kryvdyk, a polícia estava "mudando de lado". O Ministério do Interior divulgara, mais cedo, uma nota em honra aos mortos da última semana.

O ministro, deposto por voto do Parlamento anteontem, foi substituído por Arsen Avakov. À Folha, um homem que se identificou como coronel Nicolai Koloyavsny, representante da segurança do Estado, confirmou que o prédio do governo está protegido pelo "serviço especial".

A transformação política no país tem sido veloz nos últimos dias.

Com votos seguidos no Parlamento, onde legisladores pró-governo têm renunciado aos cargos, a estrutura do poder na Ucrânia está se reconfigurando dia a dia.

Volodymyr Rybak, líder do Parlamento e aliado de Yanukovich, renunciou ontem cedo e foi substituído por Oleksander Turchynov, próximo da opositora Yulia Timoshenko. Ele foi nomeado primeiro-ministro interino.

O presidente deposto diz, porém, que o aliado foi forçado a deixar o cargo mediante agressões físicas.


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