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'Não tenho medo', diz 1ª chefe de polícia afegã

Promovida neste ano, Jamila Bayaz não podia estudar nem trabalhar na época do Taleban

DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM

Na sequência do 11 de Setembro, o Afeganistão conquistou manchetes mundiais com relatos de abusos contra os direitos das mulheres. A imagem de burcas cobrindo suas cidadãs, apedrejadas até a morte, tornou-se o cartão postal invertido do país.

Mas Jamila Bayaz, 50, não está assustada. Apesar das constantes violações à dignidade feminina, ela insiste: "Não tenho medo".

Neste ano, Bayaz foi promovida a chefe de um distrito policial de Cabul --primeira mulher a deter esse poder na polícia do país. Responde pela segurança da região da capital afegã que inclui o palácio presidencial, ministérios e o banco central.

Lacônica e séria, responde às perguntas da Folha com frases curtas ao telefone.

"Não tenho medo", ela repete durante a conversa. "Tenho meu uniforme, sou uma policial e sirvo ao país."

O número de mulheres na polícia afegã tem crescido. De acordo com o grupo Oxfam, em 2005 havia 180 policiais mulheres no país. Em julho de 2013, eram 1.551, entre um total de 157 mil membros.

A chefia de um distrito é o mais alto cargo na linha de frente da polícia. O ofício traz, além das honras, o perigo de ataques do Taleban.

Nos últimos meses, mulheres de destaque foram alvo de violência no país. No sul, duas policiais e uma escritora indiana que relatara a vida sob o Taleban foram mortas. Uma senadora foi ferida em emboscada, e uma parlamentar foi sequestrada.

Em suas rondas por Cabul, Bayaz está sempre acompanhada de guarda-costas.

Ela entrou para a polícia há 30 anos, realizando um sonho de menina. Mas, sob o regime Taleban (1996-2001), viveu trancafiada em casa, sem poder estudar ou trabalhar.

"Eles não deixavam as mulheres saírem", conta. "Hoje está muito melhor. Podemos estudar e nos tornar médicas, advogadas, policiais. Assim servimos melhor ao país."

Mas a discriminação permanece presente numa sociedade ainda ligada a uma interpretação ultraconservadora do islã.

Há receios de um possível retrocesso nos direitos das mulheres com a saída das tropas lideradas pelos EUA no fim do ano.

Nesse embate, Bayaz estará em uma das linhas de frente. Ela resume a convicção que a motiva: "Homens e mulheres são iguais".


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