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Venezuela prende dois prefeitos opositores
Eles foram detidos por envolvimento em protestos antigoverno; EUA dizem estar preocupados com situação
Governo Maduro alega que a Justiça protegeu o 'direito das maiorias'; prefeitos presos pedem manifestações pacíficas
Alinhado ao governo chavista, o Judiciário venezuelano passou a decretar a prisão de prefeitos de oposição.
Dois prefeitos --Daniel Ceballos, de San Cristóbal, e Enzo Scarano, de San Diego-- foram presos anteontem, acusados de instigar a violência ou ser coniventes com ela. Ao menos 31 pessoas foram mortas no país desde 12 de fevereiro, início dos protestos contra a gestão Nicolás Maduro.
Ceballos foi acusado de fomentar uma "rebelião civil", e Scarano, de ter ignorado ordens judiciais para que fossem removidas barricadas de protestos em San Diego.
Ambos foram conduzidos à prisão militar de Ramo Verde, a mesma onde Leopoldo López, ex-prefeito de Cachao e um dos principais líderes das manifestações, está preso desde fevereiro. López e Ceballos são do mesmo partido, o VP (Vontade Popular).
O prefeito de El Hatillo, David Smolansky, também do VP, disse ter visitado Ceballos e Scarano em Ramo Verde e afirmou que os prefeitos detidos exortaram a população a seguir com a "luta pacífica".
A ofensiva judicial contra os oposicionistas reavivou os protestos. Ontem, estudantes que marcharam até a prisão militar, que fica num subúrbio de Caracas, foram dispersados com gás lacrimogêneo.
A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Jen Psaki, declarou que o país está "profundamente preocupado" com a detenção dos políticos e pediu um "diálogo abrangente" na Venezuela.
Em entrevista à agência Efe, sob anonimato, outro funcionário do Departamento de Estado americano classificou as ações da Venezuela de "criminalização da dissidência". Ele citou também o caso da deputada María Corina Machado, que pode perder a imunidade parlamentar.
María Corina deve ir hoje ao Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos, nos EUA. Ela acusará o governo Maduro de uma série de arbitrariedades.
RESPOSTA DO GOVERNO
O ministro do Interior da Venezuela, Miguel Rodríguez Torres, defendeu as prisões e insistiu em que elas foram resultado de decisões judiciais.
"Os órgãos de Estado --no caso, já nem é o governo--atuam para proteger o direito das maiorias. Não o de um pequeno grupo que, usando a desculpa do direito ao protesto, quer atrapalhar a vida dos venezuelanos e golpear a governabilidade", disse.
Ontem, horas após Scarano ser detido e condenado a dez meses de prisão, o conselho eleitoral do país anunciou que fará novas eleições para a Prefeitura de San Diego.
À noite, Maduro anunciou intervenção federal na polícia de San Diego --confirmada depois pelo prefeito interino da cidade, Pablo Domínguez, que disse que a Guarda Nacional Bolivariana assumiu o controle da força.