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Clóvis Rossi

Ucrânia cairá no colo do Brasil

Cúpula dos Brics acabará sendo permeada pela crise aberta pela anexação da Crimeia

Em recente reunião de acadêmicos dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), um dos representantes russos defendeu a provocativa ideia de realizar em Ialta a cúpula do grupo em 2015, que será na Rússia.

Ialta, como se sabe, fica na Crimeia, que é o epicentro da mais grave crise entre o Ocidente e a Rússia desde o fim da Guerra Fria.

Para levar o caráter provocativo mais além, Ialta foi também o cenário para uma conferência entre a então União Soviética, os EUA e a Grã-Bretanha, na qual se decidiu, em 1945, a divisão do mundo em zonas de influência entre Ocidente e URSS.

A proposta do russo, agora, poderia ser lida como uma tentativa de reproduzir o esquema de 1945, com os Brics funcionando como contraponto ao Ocidente.

Não se sabe se o governo russo encampará a proposta do acadêmico e a apresentará na cúpula deste ano, em julho, em Fortaleza.

De todo modo, o episódio demonstra, claramente, que a crise na Ucrânia acabará por pousar na cúpula de Fortaleza, gostem ou não os anfitriões brasileiros.

Por isso mesmo, a diplomacia brasileira está fazendo malabarismos ao iniciar os contatos finais para a realização da cúpula, o que implica definir mais nitidamente a agenda. O Itamaraty não quer desagradar Vladimir Putin, mas tampouco quer que ele use a plataforma Brics como aval para a anexação da Crimeia ou, pior ainda, para novas aventuras na Ucrânia.

Por isso mesmo, o governo brasileiro está sendo extremamente pusilânime no tratamento da crise ucraniana. Soltou uma nota absurdamente anódina a respeito e, na ONU, se absteve na votação de moção que condenava a anexação da Crimeia. Ou seja, foi incapaz de decidir se a anexação é legítima ou se contraria a legislação internacional.

Os outros Brics também se abstiveram, exceto, é claro, a própria Rússia que votou contra.

Putin interpretou, corretamente, a abstenção como favorável à Rússia. Teria sido terrível se parceiros em um bloco como os Brics seguissem a maioria da Assembleia-Geral da ONU e votassem contra a anexação, acompanhando o Ocidente.

É razoável imaginar que Putin aproveitará a cúpula de Fortaleza para tentar obter algum tipo de apoio mais explícito.

Para o Brasil, é uma complicação. A diplomacia brasileira está consciente de que os Brics são um grupo sem o mais leve traço de institucionalização. Nenhum de seus integrantes consulta o outro para definir posições a respeito do que quer que seja -exceto, como é óbvio, quando se trata de decisões internas ao bloco.

A propósito: é bem possível que a cúpula de Fortaleza marque o nascimento do banco de desenvolvimento dos Brics, em gestação há vários anos.

É o máximo de coordenação a que pode chegar o grupo, que já não brilha como nos seus primórdios. Ainda mais agora que a Rússia não é vista como boa companhia em razão das dificuldades econômicas agravadas pela crise na Ucrânia. Quem gosta de ser parceiro de um país que perdeu US$ 150 bilhões a partir da crise?

crossi@uol.com.br


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