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Marcos Troyjo

Onda separatista?

Embora o assunto tenha ganhado as manchetes nas últimas semanas, não há um surto independentista

Escócia, Catalunha, Québec, Vêneto. Antigos movimentos separatistas ganharam ímpeto com os acontecimentos na Crimeia e no Leste da Ucrânia?

A bem da verdade, muitos desses pleitos, como o de Québec e da Catalunha, estavam mais exacerbados nos anos 90 do que agora. No caso da Crimeia ou mesmo de parte oriental da Ucrânia, o sentimento que impera desde o fim da União Soviética não é o de plena independência. Trata-se, antes, do desejo de reintegração a um Estado (Rússia) a que pertence a maioria étnica daquelas regiões.

Dessas dinâmicas, a de maior impacto potencial para o mundo é a da Escócia. Referendo para aferir a vontade de deixar o Reino Unido realiza-se em 18 de setembro. Se isso acontecer, os efeitos serão sentidos para além da União Europeia.

George Robertson, ministro britânico da Defesa nos anos Tony Blair e ex-número 1 da Otan, classifica a eventual independência escocesa como "cataclísmica". O status de potência do Reino Unido --membro permanente do Conselho de Segurança da ONU-- sofreria pronunciado enfraquecimento relativo.

Ao contrário dos anos 60 e 70, quando independência rimava em grande medida com descolonização --item prioritário da ONU à época--, hoje não há "solidariedade internacional" entre os movimentos separatistas. Todos respondem a lógicas eminentemente locais.

Embora pleitos independentistas tenham ganhado as manchetes nas últimas semanas, não há um surto separatista no mundo. Mesmo se ele existisse, não seria algo novo para o sistema internacional e, sobretudo, para a ONU. No início dos 90, com o fim das ditaduras na "Cortina de Ferro" e o esfacelamento soviético, dezenas de novos países passaram a compor uma nova geografia política mundial. Hoje, não estamos nem perto disso.

Na maioria dos países da Europa Ocidental, ou mesmo no Canadá, o separatismo se dá majoritariamente por razões histórico-culturais --"registro mnemônico" da ambição de antigas gerações em constituir Estados independentes. Embora motivações econômicas possam ter desempenhado algum papel no desejo de independência, a economia não é fator determinante. Os pleitos separatistas dão-se hoje em regiões de elevada prosperidade.

Para as relações internacionais contemporâneas, mais importante do que a maneira com que países como Rússia e China lidam com a vontade separatista desse ou daquele território é o tipo de relacionamento que pretendem imprimir a seu entorno geopolítico.

O caso da China fornece bom exemplo do paradoxo entre separação e reintegração. Por um lado, Pequim evita qualquer possibilidade de eventual desgarramento da região do Tibete. Por outro, prega a incorporação de Taiwan ao ideal de "uma única China". Daí a bem calculada neutralidade chinesa perante a crise ucraniana.

Assim, as "circunstâncias" de Rússia e China --que sinalizam volta a um cenário global pontilhado por esferas de influência-- prenunciam noites maldormidas para os estrategistas do Ocidente.

mt2792@columbia.edu


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