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Clóvis Rossi

Estão desconfiando da gente

Copa faz uma parte do mundo descobrir que o Brasil está muito longe de ser padrão Fifa

Dias atrás, a agência russa de notícias RIA-Novosti informou que houve sondagens para saber se Moscou aceitaria substituir o Rio de Janeiro na organização dos Jogos Olímpicos de 2016.

No mesmo momento, o jornal britânico "Evening Standard" dizia que o COI consultara Londres, informalmente, para checar se poderia tomar o lugar do Rio.

A editoria de Esportes desta Folha diz, com razão, que o noticiário do "Evening Standard" é pouco consistente. Já a hipótese Moscou é ainda mais inconsistente: em conflito com os EUA e a Europa, a Rússia seria o último país do mundo que o COI consultaria para substituir o Rio.

Feitas essas ressalvas, o simples fato de o gato (a Olimpíada no Rio) estar subindo no telhado da mídia internacional indica que há uma crescente desconfiança em relação ao Brasil ou, ao menos, em relação à capacidade de organização do país.

Aqui mesmo, a FGV (Fundação Getúlio Vargas) acaba de informar que a percepção sobre o clima econômico no Brasil mereceu a nota mais baixa desde 1999.

"O que mudou no Brasil é a deterioração muito grande dos aspectos macroeconômicos, de inflação e da confiança no governo. Eram problemas que não apareciam antes", afirmou Lia Valls, responsável pela pesquisa da FGV.

No "Financial Times", seu correspondente no Brasil, Joe Leahy, tem percepção parecida, mas com um olhar mais abrangente:

"Crescente dívida das famílias, a necessidade de investimentos em infraestrutura e mudança no ambiente global exauriram o modelo baseado no consumo da era Lula".

Essa desconfiança, que já vinha se insinuando desde o ano passado, parece estar se consolidando à medida que a Copa se aproxima e a mídia internacional olha mais de perto para o Brasil.

Exemplo: a revista alemã "Der Spiegel" deu capa na edição do dia 11 para a Copa no Brasil, com um artigo devastador, falando muito de corrupção.

A agência Associated Press também seguiu por aí ao informar que o Estádio Mané Garrincha, de Brasília, tornou-se o segundo mais caro do mundo, depois do de Wembley, ao custar US$ 900 milhões contra um orçamento inicial de US$ 300 milhões. Suspeitas de fraude triplicaram o preço, diz a AP.

Os protestos da quinta-feira (15) tiveram, na mídia latino-americana principalmente, destaque maior do que o número de participantes autorizava.

O diabo é que os protestos não são ranzinzice. O Índice de Progresso Social, elaborado por peritos de grifes como Harvard e Oxford, mostra que o Brasil não é padrão Fifa. Ficou em oitavo lugar na América Latina, atrás de países infinitamente mais pobres como Costa Rica, Uruguai e Chile, os três primeiros.

Ou seja, o país é incapaz de "satisfazer as necessidades humanas básicas de seus cidadãos, de estabelecer os elementos básicos que permitam melhorar e manter a qualidade de vida e de criar as condições para que todas as pessoas possam alcançar seu potencial máximo", que é o que define o progresso social.

Tudo somado, vê-se que a desconfiança é tudo, menos surpreendente.


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