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Marcos Caramuru de Paiva

A ofensiva externa chinesa

Em política externa, a China parece estar convencida de que os seus negócios vêm antes, e suas ideias, depois

Não faltaram analistas a questionar, na semana passada, a notícia de que, pelos cálculos do Banco Mundial, o PIB chinês em PPP ultrapassará o dos Estados Unidos no final de 2014.

Os EUA continuarão a ser, décadas adiante, o grande líder. Por vários fatores, entre eles a capacidade inigualável de gerar inovação e a circunstância de seu maior competidor, a China, não ter, como os americanos, uma política de poder.

A orientação externa chinesa é, sobretudo, pragmática. Muitos a criticam por isso: não haver critério na escolha dos parceiros. Mas ao combinar, como nenhum outro país no momento, comércio, empréstimos e investimentos na ofensiva internacional, a China vai abrindo espaços.

Três fatos nos últimos dez dias oferecem exemplos de como os chineses constroem a sua teia.

O mais marcante foi a viagem do primeiro-ministro a quatro países africanos.

A China vai modernizar e operar ferrovias na Nigéria, renovar a mais importante linha férrea no Quênia e iniciar uma nova empresa aérea no continente, sob a liderança da Hainan Airlines, que já montou, em Gana, a Africa World Airlines. Ao que tudo indica, não há economia nos recursos para a região. Nesta visita, falou-se em uma cifra acima de US$ 30 bilhões.

O segundo foi o esboço de um novo quadro de cooperação com a Rússia, a partir do espaço aberto pela imposição das sanções americanas e europeias.

Ele ainda não foi confirmado. Mas segundo divulgou o "China Business News", o governo russo poderá cancelar barreiras não-formais a investimentos chineses e abrir a possibilidade de que a China realize obras de infraestrutura e construção civil em seu território. A isso se acrescentaria um acordo que pode chegar a US$ 270 bilhões entre a Gazprom e o grupo China Oil & Gas, pelo qual a Rússia exportaria para os chineses o equivalente a um quarto de suas vendas de gás para a Europa.

Putin é esperado em Xangai para a conferência sobre interação asiática e construção de confiança, que vai reunir 46 países, entre os dias 20 e 22 de setembro.

O terceiro, menos relevante mas emblemático, foi a informação de que um grupo de Pequim vai cooperar com uma empresa inglesa para construir a cidade aeroportuária de Manchester. Não se trata apenas do aeroporto, mas também de um conjunto de obras no seu entorno. O Reino Unido é mais um na disputa pela atração de capitais e pela capacidade de engenharia dos chineses.

Três exemplos, é certo, não formam a política externa de um país. Mas dão uma ideia de como a China usa os instrumentos que possui. E nisso inova.

A política americana sempre confiou que, promovendo as ideias do capitalismo liberal e da democracia abriria naturalmente espaço para os negócios de suas empresas.

Os chineses parecem convencidos de que os negócios vêm antes, as ideias depois.

O importante é abraçar a oportunidade, sem entrar no mérito de temas de ordem interna, que só os países perdem quando não os conduzem bem.


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