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entrevista - óscar iván zuluaga, 55

Negociações de paz com as Farc vão por caminho errado

Candidato opositor à presidência da Colômbia diz que o atual governo dialoga sem impor condições duras ao grupo terrorista

SYLVIA COLOMBO ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

Suspender as negociações de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e retomá-las com mão muito mais dura.

É com esse discurso que o candidato conservador Óscar Iván Zuluaga, 55, pretende dar o primeiro passo para ser eleito presidente da Colômbia no próximo domingo.

Apadrinhado pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-10), Zuluaga saiu de uma posição discreta para empatar tecnicamente com o atual mandatário, Juan Manuel Santos, que busca a reeleição.

A principal divergência entre ambos é que Santos sugere conceder acesso ao Parlamento e uma certa anistia, ainda não definida, a ex-guerrilheiros. Pesquisas indicam que essas iniciativas são extremamente impopulares entre os colombianos (rejeição de cerca de 70%).

Em meio ao escândalo da divulgação de um vídeo em que aparece dialogando com um "hacker" que teria tido acesso a informações de inteligência sobre a negociação, Zuluaga recebeu a Folha em sua casa, em Bogotá.

"O vídeo é uma armação e vamos provar por meio de perícia", declarou ele, assessorado pelo marqueteiro brasileiro Duda Mendonça.

Folha - Por que o sr. quer ser presidente da Colômbia?
Óscar Iván Zuluaga - Penso que o país vai num caminho equivocado com relação ao elemento mais importante para a Colômbia atualmente, que é o tema da segurança. O êxito dos oito anos de governo Uribe foi que esse país recuperou a segurança e deixou num estado muito debilitado os atores terroristas que atuavam à margem da lei. O Estado ganhou institucionalidade, passou à ofensiva, e as pessoas podiam sair para viajar por todas as estradas durante a noite.
Foi com essa política básica que Juan Manuel Santos se elegeu. Só que, depois disso, por uma decisão pessoal, Santos mudou essa política.
Preferiu o caminho de uma paz negociada sem condições, tendo como fiador fundamental o regime castro-chavista. É preciso debilitar e desarticular os atores terroristas por meio da institucionalidade. Isso significa ter forças militares motivadas e que jogam na ofensiva.
Em segundo lugar, gerar todo um sistema de desmobilização e reinserção dos ex-guerrilheiros, por meio de um Estado generoso, que abre as portas aos que querem abandonar a luta armada. E acelerar investimentos em políticas sociais nas áreas onde esses atores terroristas estiveram presentes e causaram destruição. Para nós, uma paz negociada é possível, mas tem de haver interrupção de toda a ação criminosa das Farc. Com essa premissa, podemos negociar.

Uma anistia foi necessária em vários casos conflituosos, na América do Sul, na África. O sr. acha possível não firmar nenhum tipo de anistia?
Estou de acordo com redução de penas. Significa que um líder das Farc que tivesse que pegar 50 anos na cadeia poderia pagar apenas 6 ou 8. Mas sentimos que quem cometeu crimes atrozes e delitos de lesa-humanidade tem de ir à prisão.
Também estou de acordo com a elegibilidade política, mas só se aplicada a guerrilheiros rasos. Aqueles que cometeram crimes atrozes e delitos de lesa-humanidade não podem ser eleitos.

O sr. estaria a favor, portanto, da criação de um partido com ex-guerrilheiros das Farc?
Sim, desde que fossem ex-guerrilheiros rasos.

Assim como o presidente Santos, o sr. construiu sua trajetória sob a proteção de Álvaro Uribe. Como evitar que se transformem em ferozes rivais, como são os dois hoje?
Conheço o ex-presidente Uribe desde os anos 90, quando ele era governador do Departamento de Antioquia. Fiz meu caminho político com ele, inclusive nos oito anos de Presidência [Zuluaga foi senador e ministro de Uribe].
E durante a gestão de Santos estive trabalhando em equipe com Uribe. Fizemos juntos o projeto político do Centro Democrático [partido uribista criado no ano passado] e lutamos por ele nas eleições legislativas [em que Uribe foi eleito senador].
Nossa relação é muito sólida, antiga e de afinidade ideológica. Santos chegou a me oferecer o Ministério do Interior, mas eu disse que não iria. Minha lealdade é com relação às ideias que eu defendia com Uribe. Santos fez as coisas por conveniência e tinha outras perspectivas para o país. Trata-se de um cenário muito diferente.

O que o sr. tem a dizer sobre o vídeo divulgado pela revista "Semana" em que aparece recebendo informações sigilosas das negociações do governo com as Farc por meio do hacker' Andrés Sepúlveda?
Estamos esperando o veredicto dos peritos técnicos, que estão estudando o vídeo para fazer um pronunciamento. O que vimos até o momento é que se trata de uma montagem. Foi feito de maneira ilegal, se infiltraram em nossa campanha para buscar esse propósito a poucos dias da eleição. Sepúlveda trabalhava conosco na campanha, na área de segurança informática, mas não estava me passando informação ilegal.

Como o sr. avalia a situação da Venezuela?
A Venezuela não é uma democracia e tem dado apoio às Farc. Nossa exigência é de que a Venezuela volte a caminhar até a democracia e que assuma um compromisso de lutar contra o terrorismo. Santos tem guardado silêncio cúmplice com a Venezuela. Não deveria, pois nossa fronteira com esse país é gigante.

E a posição da Unasul?
A Unasul está sob influência de um castro-chavismo nefasto para a América Latina. Vai de encontro ao que se havia proposto quando foi criada, onde todos os países nos comprometemos a defender valores e princípios democráticos.

Como o sr. vê a relação comercial entre Brasil e Colômbia?
Creio que há um potencial muito grande. A Colômbia pode ser um ponto de entrada para que a produção brasileira ingresse nos EUA por meio dos tratados de livre-comércio da Aliança do Pacífico. E eu tenho grande interesse no que o Brasil fez para modernizar sua agricultura e a produção da pequena e média empresa. Espero poder visitar o Brasil assim que seja possível.

E como é trabalhar com um marqueteiro brasileiro [Duda Mendonça, que fez a campanha de Lula]?
Tem sido excelente por conta do know-how e do profissionalismo. Foi um achado apostar no "z", de Zuluaga [como marca da candidatura], que as pessoas identificam com o "Zorro". Foi um acerto da nossa campanha.

Leia a íntegra
folha.com/no1457397


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