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Em prédio de 11 andares, separatistas da Ucrânia criam sede de sua 'república'

LEANDRO COLON ENVIADO ESPECIAL A DONETSK

Onze andares do principal prédio público de Donetsk simbolizam a crise no leste da Ucrânia às vésperas da eleição presidencial de domingo.

Visita, só com autorização dos separatistas pró-Rússia. Em cada andar, jovens de 20 a 25 anos, no máximo, fazem vigilância e pedem passaporte para autorizar a entrada.

Ali, onde até há pouco tempo era a sede do governo local, funciona agora o comando da "República Popular de Donetsk", declarada pelos separatistas, mas não reconhecida pela Ucrânia.

A Folha visitou andares, incluindo corredores e salas, nesta quinta (22). Foi guiada por separatistas que autorizaram a visita desde que não fosse feita imagem das dezenas de armas e de rostos dos membros do grupo.

Seria, numa tentativa de comparação, como se o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, estive totalmente invadido e dominado.

Do lado de fora, postes verdes e vermelhos --como nas fronteiras russas-- simbolizam a divisão do "território" com a Ucrânia.

No sétimo andar, a situação mais inusitada: ali, emite-se a "credencial de imprensa" para poder circular pelas ruas de Donetsk.

A da Folha era de número 904, ou seja, até agora cerca de 900 jornalistas receberam o documento.

Na prática, os separatistas inventaram uma espécie de visto para jornalistas.

Embora a reportagem tenha obtido visto de entrada na Ucrânia pela capital, Kiev, foi obrigada a pedir autorização para permanecer pelas ruas de Donetsk.

"É para evitar problemas nas ruas", alertou um dos líderes do grupo, com uma espingarda um tanto ultrapassada à cintura. Com isso, eles têm o controle de quem está na região --quem não apresenta o documento pode ser detido e expulso, avisam.

O prédio está cercado por uma enorme barricada de pneus, madeiras e pedaços de concreto. As escadas são decoradas por cartazes acusando o governo da Ucrânia de "fascismo", além de imagens de líderes de potências ocidentais, como o presidente Barack Obama e desenhos feitos por crianças com figuras militares.

O tour da reportagem pela tal "república" continuou em outros lugares sob sua influência, como uma zona eleitoral bloqueada para impedir a eleição de domingo, convocada após a queda do então presidente Viktor Yanukovich, aliado dos russos.

Não há barricada ou algo que impeça a entrada ao prédio, que cuida da distribuição de urnas, lista de eleitores e todos documentos necessários para votação.

No entanto, os corredores estão vazios e as portas, lacradas. Segundo um funcionário, os ativistas pró-Rússia já avisaram: se alguém abri-las, eles retornam e fecham de novo.

Ninguém arrisca descumprir a ordem. Resultado: uma seção de 3.000 eleitores, até agora não recebeu qualquer material para realizá-la.

"Temos pouco tempo e não sei se a situação vai mudar. Não tenho ideia do que fazer", disse à reportagem o chefe da seção, o estudante de pós-graduação em História Bodnia Olensii, 24. "Aqui, desse jeito, não tem eleição".

Donetsk é uma das principais cidades do leste ucraniano e reflete uma contradição: o governo da Ucrânia se mostra incapaz de desocupar os prédios invadidos, mas serviços públicos --como hospitais e transporte-- continuam sob seu controle. É normal encontrar policiais ucranianos circulando nas avenidas sem incomodar ativistas pró-Moscou nos prédios ao lado.

Parece estranho, mas isso talvez simbolize a confusão que se tornou o país nos últimos meses. As famílias mantêm suas rotinas e não há um clima bélico nas ruas --apenas tensão e incerteza.


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