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Clóvis Rossi

O voto, além da guerra e da paz

A escolha dos colombianos na eleição deste domingo será acima de tudo entre acordo ou as balas

Estranha eleição essa que a Colômbia faz neste domingo (25).

O país tem a melhor chance desde sempre de chegar a um acordo para pôr fim a uma guerra de 50 anos, que causou 220 mil mortes, transformou 6 milhões de colombianos em refugiados (internos ou externos) e custa ao ano algo em torno de US$ 5 bilhões (R$ 11 bilhões).

Como a mais recente pesquisa do instituto Gallup informa que 66% dos colombianos apoiam o processo de paz, a sabedoria convencional diria que o candidato identificado com as negociações (no caso, o presidente e candidato à reeleição Juan Manuel Santos) seria facilmente reeleito, certo?

Errado. Santos chega à eleição em empate técnico com o candidato (Óscar Iván Zuluaga) que já anunciou que, uma vez eleito, suspenderá as negociações com as Farc.

A vitória de Zuluaga, fantoche do ex-presidente linha-dura Álvaro Uribe, seria portanto o fim das negociações, com terríveis consequências. "Se as negociações fracassarem, serão necessários muitos anos de conflito sangrento para derrotar as Farc no campo de batalha", diz alentado estudo do Wola (Washington Office on Latin America) sobre o conflito.

Se é assim, como explicar as dificuldades de Santos para ganhar a eleição?

Responde Rogelio Nuñez, analista do site Infolatam: "Santos se equivocou ao centrar sua campanha no tema da paz com as Farc quando a cidadania, e, em especial, as classes médias emergentes, reclamam é de melhoria na segurança, nos serviços públicos e no combate ao desemprego".

De fato, a assinatura de um tratado de paz ocupa apenas o sétimo lugar entre as preocupações dos colombianos.

Há, em todo o caso, uma segunda resposta possível: o apoio majoritário ao processo de paz esconde o fato de que, como é comum, o diabo está nos detalhes.

Como tem escrito reiteradamente a excelente Sylvia Colombo, enviada especial da Folha à Colômbia, uma fatia importante do eleitorado não aceita determinadas concessões às Farc.

É uma impressão corroborada pelo Gallup: 78% dos pesquisados pelo instituto não concordam com a ideia de que os membros das Farc, se e quando deixarem as armas, possam participar da vida política sem ter que pagar com a cadeia pelos crimes que cometeram.

A reinserção dos guerrilheiros é um dos seis temas que compõem a agenda da negociação governo/Farc que se desenrolam há um ano e meio em Havana. Não há, portanto, uma definição sobre a anistia aos guerrilheiros e sobre a reinserção deles na política.

Mas, sem um acordo que beneficie os quadros das Farc, o processo de paz fracassará. Logo, a percepção majoritária é a de que a guerrilha será anistiada e poderá ocupar cadeiras do Parlamento em vez de ir para o cárcere.

Tudo somado, Santos não está conseguindo vender, ao menos no primeiro turno, a sua tese de que a eleição é uma escolha entre a guerra e a paz, na expectativa de que os colombianos prefeririam a paz. Preferem, sim, mas sob condições.


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