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Clóvis Rossi

A Europa vai se suicidar?

Crescimento dos partidos xenófobos e eurofóbicos não deve permitir nem complacência nem histeria

É assustador o avanço dos partidos eurofóbicos e xenófobos nas eleições de domingo (25) para o Parlamento Europeu, mas o pior que poderia acontecer seria deixar-se tomar pela histeria.

Um olhar não histérico sobre a votação dirá que, sim, é horrível que a extrema direita tenha passado de 56 eurodeputados, em um total de 736, para 108 em 751, que é a nova composição da Eurocâmara. Praticamente dobrou, portanto.

Mas, ainda assim, não passam de 14% do total. Mais: na metade dos 28 países europeus, não se elegeu nenhum eurofóbico (Espanha, Romênia, República Tcheca, Portugal, Bulgária, Eslováquia, Croácia, Irlanda, Letônia, Eslovênia, Chipre, Estônia, Luxemburgo e Malta).

Ou seja, a xenofobia/eurofobia, irmãs siamesas, não é um fenômeno generalizado. Na lista estão dois dos países mais espancados pela crise (Espanha e Portugal). Em Portugal, perdeu o partido do governo, mas subiu o seu adversário tradicional (o Partido Socialista).

Na Espanha, perderam votos os partidos sempre majoritários (conservador e socialista), mas surgiu um grupo ("Podemos") que representa os "indignados", para nada xenófobo.

Mesmo na Grécia, devastada pela crise e pelo austericídio, perdeu o governo, mas ganhou a Syriza (Coligação de Esquerda Radical), que não é contra a Europa e menos ainda xenófoba, ao contrário, aliás.

Mesmo na França, em que, aí sim, o susto foi espetacular, com a vitória da Frente Nacional, é preciso cautela ao imaginar que se trata do início de crescimento imparável que acabará depositando Marine Le Pen no Palácio do Eliseu.

É bom lembrar que, em 2002, a FN foi para o segundo turno da eleição presidencial, deixando o Partido Socialista para trás, mas acabou triturada no voto final.

O outro partido eurofóbico de sucesso no domingo (o Ukip, Partido pela Independência do Reino Unido) cresceu em número de conselheiros (espécie de vereadores) nas eleições locais, simultâneas com as europeias, mas não elegeu um único presidente de conselho.

O eleitor parece achar que o Parlamento Europeu não interfere diretamente na sua vida e, portanto, pode despejar nele qualquer loucura. Mas, na hora de escolher para seu próprio país, vota nos partidos clássicos.

Feitas todas as ressalvas, não há, no entanto, lugar para a complacência. Como diz Joaquín Almunia, vice-presidente da Comissão Europeia, braço executivo do bloco, "não mudar nada depois dos resultados da eleição seria suicídio".

Afinal, parece ter razão o sociólogo espanhol Jordi Vaquer ao escrever, para "El País", que os eleitores "não estão fartos da Europa, mas DESTA Europa", ou seja, da Europa do austericídio.

Mensagem recolhida pelo grande vencedor de domingo, entre os partidos convencionais, o presidente do Conselho de Ministros italiano, Matteo Renzi: está propondo uma "ope­ra­cão key­ne­sia­na", com es­tí­mu­los e in­vestimentos, além de uma convenção constitucional para relaxar as rígidas regra­s fiscais da eu­ro­zo­na. A ver, pois, se a Europa se suicida ou não.

crossi@uol.com.br


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