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Brasil no Haiti - 10 anos
Futebol e papel em missão atraem haitianos ao Brasil
País foi se tornando eldorado no imaginário do Haiti, diz ex-comandante
Desde o terremoto de 2010, cerca de 25 mil pessoas saíram do Haiti para entrar pelo Acre em busca de trabalho
Guyvanel Alcius, 33, era professor de inglês e francês na cidade de Cap-Haitien, no Haiti, quando ouviu falar que seus conterrâneos estavam muito bem em terras brasileiras. "Os haitianos amam o Brasil pelo futebol. Tive curiosidade em vir", conta.
Com os olhos lacrimejantes e cabeça baixa, Alcius está preocupado e surpreso com o Brasil. Em 5 de maio, dia em que chegou ao país, foi roubado no metrô e ficou sem documentos e dinheiro.
Agora, aguarda por ajuda na Missão Paz, lugar que abriga migrantes no centro de São Paulo. Ele está no limbo porque perdeu seu visto permanente humanitário, cedido pelo governo e que permite aos haitianos terem acesso a todos os direitos no território nacional.
Desde o terremoto de 2010, entraram pelo Acre cerca de 25 mil haitianos. De acordo com os dados mais recentes, de 2010, o desemprego no país caribenho é de 40%.
O general Augusto Heleno Ribeiro, o primeiro comandante militar da Minustah, relaciona o interesse em migrar ao Brasil à admiração que os haitianos têm pelo futebol brasileiro. "A partir de 2004 [início da missão], fomos aparecendo como um novo eldorado. O Brasil começou a povoar o sonho haitiano", diz.
Robert Fatton Jr., professor da Universidade da Virgínia (EUA) e autor do livro "A República Predatória do Haiti: a Transição sem Fim para a Democracia", diz que a tendência é que o Brasil se torne cada vez mais atraente aos haitianos devido à presença dos que já estão aqui.
"A situação econômica no Haiti está de tal forma que os haitianos, em especial os jovens e os pobres, têm buscado uma nova vida em outros lugares, e o Brasil tem uma política de imigração relativamente liberal", diz Fatton.
Ele também afirma que os EUA, para onde haitianos costumam ir, dificulta a entrada e permite à Marinha recolher imigrantes no mar.
Franck Seguy, haitiano doutor em sociologia pela Unicamp, vê vantagens econômicas para o Brasil.
"São os haitianos que estão ajudando com a mão de obra. Nenhum que chega aqui fica desempregado, porque o brasileiro não aceita os salários que eles recebem."