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Brasil discutiu cobrar EUA por posto na ONU

Relatório interno do Itamaraty mostra que governo queria 'apoio explícito' para assento no Conselho de Segurança

Documento vazado por hackers tratava das preparações da visita de Dilma a Washington, que acabou cancelada

PATRÍCIA CAMPOS MELLO DE SÃO PAULO

O governo brasileiro discutiu cobrar dos EUA um "apoio explícito à candidatura do Brasil a um assento permanente em um Conselho de Segurança da ONU reformado", além de criticar o apoio dado à candidatura da Índia.

As afirmações fazem parte de um relatório de preparação para a visita da presidente Dilma Rousseff a Washington, em 2013.

A visita acabou cancelada por Dilma devido ao escândalo de espionagem, mas um relatório interno do Itamaraty mostra as principais reivindicações do governo brasileiro. O documento foi vazado por hackers e obtido pela Folha, que confirmou seu teor de forma independente.

"A economia brasileira é maior do que a indiana e o Brasil tem inequívoco compromisso com a paz e com a não proliferação", dizia o documento, uma preparação para o encontro do então chanceler Antonio Patriota com o secretário de Estado, John Kerry. A reunião aconteceu no dia 13 de agosto do ano passado, mas não se sabe se as cobranças foram realmente feitas.

No texto, o Brasil reclama do apoio americano à Índia, que tem a bomba atômica, e diz que isso é um incentivo para países que não seguem as regras de não-proliferação nuclear.

"O apoio dos EUA já explicitado à Índia, país detentor de armas nucleares, como membro permanente de um CSNU [Conselho de Segurança da ONU] reformado poderia ser interpretado como incentivo a uma política oposta à que foi seguida pelo Brasil, que atua em estrita consonância com o regime de não-proliferação."

Oficialmente, o Itamaraty não confirma a veracidade dos documentos vazados, mas a Folha apurou que o relatório é autêntico. E, embora não seja a versão final, as ideias refletem o pensamento do governo.

Em sua visita à Índia em 2010, o presidente Obama declarou apoio à entrada do país como membro permanente do Conselho.

O relatório mostra que integrantes do Conselho de Segurança Nacional dos EUA teriam dito ao Brasil que não poderiam "prometer que a linguagem vá mudar, mas poderia potencialmente evoluir" no comunicado que seria divulgado ao final da visita, que acabou cancelada.

Nesta sexta (6), o ministro de Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou em palestra na USP que o Brasil já tem apoio de parceiros para sua candidatura ao Conselho e não precisa convencê-los disso.

"Felizmente não precisamos convencer os países disso, é uma coisa que surge naturalmente nas ideias de nossos parceiros", disse.

No relatório, porém, transparece o empenho do governo brasileiro em convencer os EUA a apoiarem a candidatura publicamente.

Indagado sobre a resistência dos americanos ao pleito brasileiro, Figueiredo afirmou que "alguns países preferem não verbalizar seu apoio, como os EUA. Mas a França e a Grã-Bretanha nos apoiam abertamente."

BARREIRAS

Outra reivindicação reiterada pelo Brasil no documento vazado é a eliminação das dificuldades impostas ao país para a importação de bens e tecnologias sensíveis.

As restrições às exportações de tecnologias sensíveis americanas estavam no cerne da relutância brasileira em comprar os caças fabricados pela americana Boeing para a Força Aérea. A licitação foi vencida pela sueca Saab.

O relatório cita algumas experiências desagradáveis do governo brasileiro com as barreiras dos EUA.

Em um projeto da Marinha para o desenvolvimento de submarinos, o texto diz que "o governo brasileiro foi levado a buscar outros parceiros" depois que os EUA negaram uma licença de exportação de alguns equipamentos.

O documento também cita a negação de licença de exportação de peças de reposição para o conserto de 16 helicópteros adquiridos pela Força Aérea.

Isso teria forçado o Brasil a levar o equipamento aos EUA para fazer manutenção.


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