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EUA vão enviar 300 militares ao Iraque

Segundo Obama, especialistas vão assessorar forças iraquianas contra radicais sunitas e não combaterão no país

Milícia xiita que lutou contra EUA se mobiliza para enfrentar rebeldes e rejeita apelo de premiê por ajuda americana

SAMY ADGHIRNI ENVIADO ESPECIAL A NAJAF E BAGDÁ (IRAQUE) RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON

O presidente dos EUA,Barack Obama, anunciou nesta quinta (19) o envio de até 300 "especialistas militares" para ajudar o Iraque a combater as milícias que se aproximam da capital, Bagdá. Ele sublinhou que os militares "não combaterão" no país.

Os americanos trabalharão em dois centros de operações conjuntas para compartilhar inteligência e planejamento, provavelmente para futuros ataques aéreos. Os EUA também fornecerão tecnologia e equipamento aos iraquianos, pagos por um fundo de contraterrorismo anunciado em um discurso no mês passado.

As tropas americanas deixaram o Iraque em 2011. "Os últimos dias nos lembraram das cicatrizes profundas deixadas pela guerra", discursou Obama. "Os EUA precisam fazer perguntas duras antes de decidir ações no exterior, militares em especial."

Questionado por jornalistas, Obama disse que, se houver ataque aéreo, será "preciso" e "com alvos claros".

A Casa Branca tem se recusado a autorizar tais ataques --pedidos pelo premiê iraquiano, Nuri al-Maliki, e por líderes democratas e republicanos nos EUA, que acham que a inação presidencial permitiu o avanço desses grupos extremistas.

O presidente anunciou ainda a viagem do secretário de Estado John Kerry para um encontro com Maliki e mandou recado direto ao premiê: "O desafio está diante dele e de outros líderes iraquianos".

MILÍCIA DE VOLTA

Um pelotão vestindo calça e camisa preta marcha em passo ritmado num bairro residencial de Najaf, capital religiosa do Iraque. Um comandante com farda militar aponta para eles e, orgulhoso, diz à Folha: "Estes são os homens que correram os americanos para fora daqui".

Seis anos após ser oficialmente desmantelada, a milícia Exército Mahdi, famosa por combates implacáveis contra os EUA durante a ocupação, assumiu outra vez seu autoproclamado papel de defensora dos xiitas iraquianos.

Desta vez, o inimigo não é uma força ocupante, mas um grupo sectário ultrarradical: o sunita Estado Islâmico no Iraque e no Levante, que tomou várias cidades e promete destruir santuários xiitas.

O Exército Mahdi, porém, se opõe frontalmente ao apelo por ajuda dos EUA lançado por Maliki, também xiita, evidenciando rachas que ameaçam minar a frente de combate ao EIIL. "Temos 15 mil combatentes treinados e preparados. É suficiente. Não precisamos da ajuda de ninguém", diz o comandante.

A posição ecoa a hostilidade aos EUA dos moradores de Najaf, ainda traumatizados com o ataque americano que, em 2004, destruiu parte da majestosa mesquita que abriga o túmulo do imã Ali, primo e genro do profeta Maomé.

O xeque Qassem Al Taee, um dos mais importantes clérigos de Najaf, rejeita qualquer plano de ajuda americana, sob pretexto de que foi Washington quem semeou a discórdia entre muçulmanos.

"Foi a maneira que os americanos encontraram para enfraquecer o islã, única força capaz de resistir às suas ambições hegemônicas", afirma o xeque, reproduzindo ponto de vista comum no país.

Mas a cidade sagrada tem vozes dissonantes, entre as quais a do clérigo Ali Basheer al-Najafi: "Se o Iraque precisar de apoio, devemos aceitar ajuda externa, desde que isso seja feito por meio de acordos internacionais".

Em Bagdá, onde o clima de insegurança é maior do que em Najaf, parece haver mais simpatia por uma eventual intervenção americana. Um dos apoios mais expressivos é o da milícia xiita Asaeb Ahl al-Haq --surgida como dissidência do Exército Mahdi--, que se aliou a Maliki e é uma das mais ativas no combate aos sunitas ultrarradicais.

"Se a coalizão de governo concordar, não vejo problema em pedir ajuda estrangeira", disse Ahmad al-Kinani, porta-voz da organização, ao receber a Folha num escritório repleto de homens à paisana com pistolas na cintura.

Ironicamente, a mesma milícia é considerada próxima da Guarda Revolucionária do Irã, facção militar de elite envolvida em ações clandestinas em todo o Oriente Médio.

"O Irã também pode nos ajudar, mas não queremos soldados estrangeiros pisando em nosso solo. Envio de armas é do que realmente precisamos", afirma Kinani.

O jornalista Driss Jawad, próximo do poder, apoia uma intervenção estrangeira, desde que seja restrita aos EUA.

Para Jawad, o governo pediu ajuda por saber que não pode depender só de forças regulares e unidades criadas para treinar cidadãos comuns.

Entre civis sunitas há um sentimento de mal-estar, já que muitos são acusados pelos xiitas de ser cúmplices do avanço do EIIL. Mas o desempregado Hamman al-Karkuli destoa do estereótipo e defende envolvimento americano.

"Sou favorável a bombardeios pesados, mas não quero nem pensar em ver os EUA novamente instalados aqui."


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