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EUA temem 'efeito Iraque' em retirada do Afeganistão

Especialistas dizem que semelhanças da ocupação americana nos dois países deveriam fazer Washington acender alerta vermelho

ISABEL FLECK DE NOVA YORK

Duas semanas separaram o anúncio da retirada das tropas americanas do Afeganistão (que será finalizada em 2016) da conquista de Mossul, segunda maior cidade iraquiana, pelo grupo radical sunita EIIL (Estado Islâmico no Iraque e no Levante), no começo do mês.

A proximidade entre os dois eventos foi o estopim para uma comparação que o governo do presidente Barack Obama vem tentando evitar: seria o Iraque de hoje o Afeganistão de amanhã?

A oposição americana defende que, após a saída das tropas, é apenas uma questão de tempo até que o levante contra o governo no Iraque se repita no Afeganistão.

"O presidente esperava que, recuando, outros atores responsáveis assumiriam seu lugar para prover estabilidade. Não vai funcionar [no Afeganistão]", disse, na última semana, o presidente do Comitê das Forças Armadas na Câmara, Buck McKeon.

No Senado, o secretário de Defesa, Chuck Hagel, defendeu que há pouco a ser comparado, mas que não há garantias de que o Afeganistão não enfrentará também o caos após a retirada dos EUA.

Para especialistas ouvidos pela Folha, as semelhanças entre as experiências nos dois países --onde as guerras, juntas, custaram aos EUA mais de US$ 4 trilhões e a vida de cerca de 6.800 militares-- são suficientes para acender um alerta vermelho.

"No Afeganistão, vemos muitos problemas como os do Iraque em termos de segurança, milícias, corrupção e um frágil processo de tomada de decisões", afirma Stephen Long, da Universidade de Richmond, na Virgínia.

Jim Philips, da conservadora Fundação Heritage, pensa que esse é um bom momento para Obama reconsiderar seu cronograma. Para ele, mesmo com o anúncio de que 9.800 dos 33.000 militares que estão lá hoje ficarão no país após o fim oficial da ocupação, em dezembro --no Iraque, a retirada das tropas em 2011, oito anos após a invasão, foi completa--, a saída integral representa riscos.

"O governo Obama anunciou uma estratégia de saída com base em decisões políticas e não nas condições militares no Afeganistão. Não funcionou no Iraque", diz.

Para Michael O'Hanlon, do Instituto Brookings, o problema é a "combinação da falta de flexibilidade do cronograma [de retirada] com a falta de opções para o pós-2016".

TENSÃO SECTÁRIA

Governo e especialistas ponderam que há diferenças consideráveis entre a ação do EIIL no Iraque e um possível levante taleban após a retirada dos EUA do Afeganistão.

No Iraque, o avanço do grupo radical sunita tem encontrado algum apoio popular contra o governo xiita. "O Afeganistão é muito menos sectário", afirma O'Hanlon.

Ele também observa que as eleições presidenciais no Afeganistão podem produzir uma "cisão" no país entre grupos tribais (um dos candidatos é pashtu, outro é filho de um pashtu com uma tajique). Soma-se a isso o fato de o vizinho Paquistão poder desestabilizar o país.

Para Stephen Long, um ressurgimento taleban é "muito provável", considerando seu alcance no território, a fragilidade do governo local e a falta de coesão das forças afegãs. Mas vê nos diferentes grupos do país um obstáculo que os sunitas do EIIL não enfrentaram no Iraque.

"Mesmo os talebans tendo mais experiência como insurgentes [que o EIIL], grupos como os tajiques, uzbeques e hazaras vêm lutando desde antes de 2001. Isso deve ter um peso na equação final."


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