Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Matias Spektor

A virada

Brasil trabalhou na política externa para receber Copa e Olimpíada, mas não soube promover a imagem do país

A cobertura internacional a respeito do Brasil começou a virar. Nos principais jornais, rádios e televisões do mundo, o tom negativo dos últimos meses está cedendo espaço a outro, mais positivo.

É impossível saber se essa onda vai durar, mas é possível olhar para trás e indagar quais lições ficam para a política externa.

Entre 2007 e 2009, o governo garantiu Copa e Olimpíadas numa ofensiva diplomática cheia de cálculo minucioso e trabalho árduo. O resultado é a mais intensa exposição do Brasil à opinião pública internacional em todos os tempos.

No entanto, se houve política externa de alto nível para conseguir os jogos, o mesmo não pode ser dito do que ocorreu depois.

O Planalto não instruiu as embaixadas brasileiras a criar um plano de ação, uma política de comunicação ou um cronograma de atividades para promover a imagem do país até o início dos jogos.

Ninguém pediu aos embaixadores uma avaliação de riscos potenciais, nem foram nomeados brasileiros notáveis para rodar o planeta fazendo propaganda.

O Itamaraty nunca consultou os marqueteiros pagos pelo governo a peso de ouro para montar uma estratégia da marca Brasil. Via de regra, o ministério tratou dos jogos não como oportunidade, mas como estorvo. A unidade responsável ficou sem orçamento e instruções.

Assim, quando a cobertura negativa tomou conta da imprensa internacional no início de 2012, o governo foi pego sem os instrumentos necessários para reverter o misto de preconceito e ignorância que ainda caracteriza o comentário global a respeito do Brasil.

Quando os protestos do ano passado eclodiram, a imagem sofreu um golpe do qual levará muito tempo para se recuperar. Nos últimos meses, algumas embaixadas brasileiras correram por conta própria.

A de Buenos Aires montou uma rede de relacionamentos que induziu uma dúzia de programas de televisão sobre as cidades-sede. A de Londres levou 25 mil pessoas a uma festa em Trafalgar Square, além de dar batalha nos jornais e na CNN.

Marketing não faz milagre. Não altera a reputação nem a imagem de um país castigado por políticas más ou ineficientes.

Porém uma estratégia de política externa talhada para pautar os meios de comunicação internacional faz toda a diferença.

Nova York aprendeu isso com a campanha "Big Apple". Sydney e Londres com suas Olimpíadas.

Em vez de se esconder com medo do turbilhão político que contagiou a sociedade brasileira, nossa diplomacia deveria tirar vantagem da energia cívica que daí emana.

Dos rolezinhos aos protestos, do embate pela desmilitarização da polícia às cotas raciais, da Lei de Responsabilidade Fiscal à da Ficha Limpa, somos um país em ebulição. Essa é a mensagem que vai nos ajudar a reduzir o deficit global de informação a respeito daquilo que somos e daquilo em que estamos nos transformando a passo acelerado.

@MatiasSpektor


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página