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Sarkozy diz que acusação a ele é 'grosseira'
Indiciado por corrupção e tráfico de influência, ex-presidente francês acusa atual governo de utilizar Justiça contra ele
Na TV, político diz que juízas designadas para interrogá-lo possuem 'obsessão política' de prejudicar sua carreira
Um dia após ser indiciado por corrupção e tráfico de influência, o ex-presidente da França Nicolas Sarkozy disse nesta quarta-feira (2) ser vítima de acusação "grotesca", encampada por "juízes militantes" de esquerda.
Com voz pausada e assertiva, o ex-mandatário de centro-direita acusou ministros do sucessor socialista, François Hollande, de instrumentalizar a Justiça.
"As acusações são grotescas. Foi por vontade de me humilhar que me convocaram sob o estatuto da detenção provisória. ("¦) Quem gostaria de estar diante de juízes com obsessão política de destruí-lo?", disse Sarkozy, em entrevista concedida a jornalistas do canal de TV TF-1 e da rádio Europe 1.
Foi a primeira vez que ele falou à imprensa após deixar a Presidência, em 2012.
O ataque de Sarkozy foi dirigido às juízas Patricia Simon e Claire Thépaut --esta já militou no sindicato da magistratura, que foi autor de duras críticas ao ex-presidente na campanha de 2012.
"Foi vingança. Foi a violação do princípio fundamental de que todo cidadão tem direito a um juiz imparcial", afirmou o ex-presidente.
Sarkozy é o primeiro ex-chefe de Estado da 5ª República, fundada por Charles de Gaulle em 1958, a ter sido detido provisoriamente para depor em um inquérito judicial.
Na terça-feira (1º), o ex-presidente passou 15 horas em uma delegacia depondo sobre suspeitas de que teria prometido fazer lobby para a nomeação de Gilbert Azibert, magistrado da mais alta corte francesa, para um cargo no principado de Mônaco.
Segundo a acusação, Azibert deu informações sigilosas de uma outra investigação, sobre o suposto financiamento ilegal de sua campanha presidencial de 2007 --a suspeita é que houve caixa dois, abastecido pelo ditador da Líbia Muammar Gaddafi, deposto e morto em 2011.
As suspeitas de tráfico de influência surgiram em interceptações telefônicas.
Sarkozy negou ter praticado qualquer irregularidade na relação com Azibert.
"Imaginem se, na época que fui presidente, o sr. Hollande fosse alvo das mesmas escutas. Imaginem o escândalo. Contra mim, tudo é permitido e autorizado."
Em seguida, Sarkozy acusou a ministra da Justiça, Christiane Taubira, de ter mentido quando disse que não sabia das escutas contra ele.
TOM DE CANDIDATO
O escândalo atinge Sarkozy em um momento em que ele aparece à frente de Hollande e da líder da extrema direita, Marine Le Pen, em pesquisas para a eleição presidencial de 2017.
Indagado se poderia assumir a presidência de seu partido, Sarkozy disse que vai refletir até meados de setembro sobre seu futuro. Com um tom de candidato, negou que os problemas com a Justiça o façam desistir da vida política. "Diante do país, nós temos um dever, não direitos."