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Livro conta detalhes do fim da segregação nos EUA

Legislação que estabeleceu direitos civis no país completou 50 anos nesta quarta-feira (2)

RODOLFO LUCENA DE SÃO PAULO

Na madrugada daquele feriadão, talvez ainda de ressaca pela magnífica vitória da quinta-feira anterior, o presidente dos EUA bateu na porta do quarto de hóspedes, onde dormia sua secretária.

Geraldine Whittington era uma jovem negra, atraente e competente, que Lyndon Baines Johnson havia contratado cerca de um mês após assumir a Presidência, como que a dar exemplo na luta contra a segregação racial.

Ao som das clandestinas batidas, ela sequer perguntou o que o chefe queria --talvez só uma inocente conversa. Com a porta fechada, avisou que não se sentia bem: "Estou naqueles dias", gritou, para desestimular qualquer insistência.

Johnson, que na véspera havia assinado o que muitos consideram a mais importante lei norte-americana do século passado, entendeu o recado e bateu em retirada.

É com detalhes assim que o jornalista Todd Purdum, do site "Politico" e da revista "Vanity Fair", por 23 anos repórter do "New York Times", recheia seu minucioso relato da aprovação da Lei dos Direitos Civis. O ato, que completou 50 anos na quarta (2), tornou ilegal nos EUA a discriminação por raça, cor, religião, sexo ou país de origem.

Foi assinado num momento de efervescência das lutas populares no país, que ainda lambia as feridas provocadas pelo assassinato do presidente John Kennedy, em 1963. Kennedy foi o "pai" da lei, que anunciou ao país quando a violência contra os negros chegava ao que parecia ser o ponto máximo.

No sul, o movimento negro fazia campanhas contra a segregação racial; em universidades, tropas federais precisavam garantir o acesso dos primeiros estudantes negros, enquanto grupos racistas, apoiados pelas forças repressivas locais, resistiam.

Em Birmingham, a polícia disparava jatos de água contra manifestações pacíficas de estudantes; cães policiais eram atiçados contra jovens, em cena que provocou indignação. Parlamentares sulistas ficaram ainda mais revoltados com a ideia de tornar ilegal a discriminação.

Mas o projeto não morreu com o assassinato de Kennedy: na sua posse, Johnson prometeu levá-lo adiante. Mais que isso: apesar de ter a maioria do Congresso, queria vê-lo nascer com o voto de democratas e republicanos.

PRAGMATISMO

Em "An Idea Whose Time Has Come: Two Presidents, Two Parties, and the Battle for the Civil Rights Act of 1964" (uma ideia cuja hora chegou: dois presidentes, dois partidos e a batalha pela Lei dos Direitos Civis de 1964, em inglês), Purdum acompanha a trajetória do projeto da gestação até a assinatura, na Casa Branca.

O livro se debruça principalmente sobre o processo parlamentar e, por vezes, chega a deixar o leitor embrulhado nas minúcias da tramitação por comissões do Congresso. Não deixa de revelar, porém, a miríade de acordos, pequenas e grandes traições.

Traz também a voz das ruas. É emocionante o relato da construção da Grande Marcha pelos Direitos Civis em Washington, em agosto de 1963, quando o reverendo Martin Luther King fez seu famoso discurso.

Apesar da empolgação, mostra as negociações e o pragmatismo que, nos bastidores, ajudaram a garantir que tudo transcorresse na mais santa paz.

Onze meses depois, King iria à Casa Branca, ao lado de Robert Kennedy e J. Edgar Hoover, testemunhar a assinatura presidencial. Levaria de lembrança uma das canetas usadas no ato em que a discriminação racial foi banida dos EUA --pelo menos, na letra da lei.

AN IDEA WHOSE TIME HAS COME...
AUTOR Todd S. Purdum
EDITORA Henry Holt and Co.
QUANTO US$ 22 (416 págs.)


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