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Clóvis Rossi

O ódio que envenena a alma

A acumulação de raiva entre judeus e palestinos parece estar chegando ao ponto de não retorno

Seriam os foguetes que o Hamas não cessa de lançar sobre Israel o maior obstáculo para a paz na região? Ou seria a reação de Israel, atingindo, por vezes, civis inocentes?

Ou seria o desenho dos territórios a que os palestinos têm direito, de acordo com decisões das Nações Unidas? Ou a dificuldade de setores palestinos em reconhecer o direito de Israel a uma existência segura?

Ou Jerusalém, a santa cidade que Israel quer que seja sua capital una e indivisível, mas da qual os palestinos reclamam uma parte, a oriental, como sua própria capital?

Que são obstáculos, são, é óbvio. Mas suspeito que o maior problema, hoje por hoje, seja o ódio de um pelo outro, que foi sendo cevado ao longo do tempo (anos? séculos? milênios?).

Não vou percorrer a história dessa pequena faixa de terra chamada Israel/Palestina para traçar as origens do ódio. Limito-me ao meu pequeno raio de ação e a apenas uma das duas incursões que fiz a Hebron, cidade sagrada para os dois lados, 35 km ao sul de Jerusalém.

O que me chocou, em primeiro lugar, é o fato de que judeus e muçulmanos celebram o mesmo profeta. Chama-se Avraham (Abraão, para os judeus) ou Ibrahimi (para os muçulmanos) --ou Al Khalil er Rahman, "amigo do Senhor". Seu sepulcro fica na mesquita de Ibrahimi, em Hebron, ou, como preferem os judeus, na caverna de Machpelá.

Na minha pobre lógica, se cultuam o mesmo profeta deveriam cultuar também os valores que ele encarna --e o ódio recíproco não está entre eles.

Mas os israelenses preferem cultuar Baruch Goldstein, que entrou atirando na mesquita/caverna e matou 29 muçulmanos que oravam. Tanto cultuam que em seu túmulo, na colônia judaica de Kyriat Arba, lê-se: "O santo médico Baruch Goldstein deu sua alma para o povo de Israel".

Agora, depois do assassinato de três jovens judeus e da represália de extremistas judeus, que mataram um jovem palestino, há, felizmente, quem, em Israel, se dá conta de que a alma está sendo envenenada.

Escreve, por exemplo, David Horovitz, fundador e editor do excelente "site" "The Times of Israel": "Se vamos curar a nação, o assassinato da última quarta-feira deveria nos livrar, de uma vez para sempre, da complacente ilusão de que gozamos de superioridade moral sobre nossos vizinhos. Se foi o caso em algum momento, não pode ser reclamada por um povo que pode produzir uma gangue de bandidos capaz de agarrar ao acaso um adolescente e queimá-lo até a morte, pelo crime de ser um jovem árabe desprevenido no dia seguinte ao enterro de três judeus vítimas do terrorismo".

Horovitz lamenta que os israelenses estejam sendo afetados por viverem "em uma região em que a indiferença pelo divino dom da vida é disseminada".

Acrescenta: "Se o Estado judeu (...) não se tornar plenamente emblema de reverência pela vida, nós não temos um particular direito a estar aqui".

Se ainda há uma chance para a paz, é preciso que seu clamor seja ouvido pelos judeus em geral, mas também que alguém de peso no lado palestino escreva algo parecido.


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